O dragão está à solta

No governo federal, ninguém admite. Os ministros da área econômica (Paulo Bernardo, do Planejamento, e Guido Mantega, da Fazenda) garantem que está tudo bem, que o País cresce de maneira sustentável e que não há razão para desespero. Mas aí chega o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e sinaliza para novos aumentos na taxa básica de juros (Selic) por conta dos números da inflação.

O temor do Copom é real. A expansão da demanda, fruto do crescimento econômico, está puxando os preços no País. É claro, também, que há mais dinheiro corrente para a população, por conta do aumento da renda e da maior facilidade de crédito. Mas isto faz com que bens duráveis, alvos principais da correria ao crédito, também aumentem. Para completar a equação da inflação, a crise mundial dos alimentos reflete no Brasil apesar do anúncio de uma supersafra por vir.

O resultado foi um índice de 0,79% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, a maior alta neste mês nos últimos doze anos. No acumulado dos doze meses, a inflação está em 5,58%, bem acima da meta de 4,5% para 2008. E, para o Copom, na ata de sua última reunião, as taxas podem aumentar.

E caberá ao Banco Central ser o ?vilão? da história, e ao mesmo tempo ser o ?mocinho?. Ser o ?mocinho? é tentar segurar o dragão da inflação, que quer se soltar e aproveita qualquer movimento em falso para fugir. Ser o ?vilão? é ser o responsável por conter o consumo, e aumentar a taxa de juros sob o risco de virar um ?patrocinador? da recessão.

Só que sempre alguém terá que fazer o serviço sujo. Para segurar os preços, algo precisa ser feito. Na ortodoxia da atual equipe econômica (simbolizada pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles), a melhor solução para conter o consumo é aumentar os juros. É uma solução simplista, que tem seus reflexos. Mas, em um País que sofreu tanto com planos malucos, é até melhor que as coisas sejam resolvidas da maneira mais aberta possível.

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