Não tem jeito! É tudo descartável

Você já parou para pensar? Tudo o que se compra hoje é de vida curta, não dura mais nada. É como se a gente tivesse que comprar alguma coisa, pagar e já estar se preparando para comprar outra para substituí-la.

Comentávamos aqui na redação, dia desses, o custo dos cartuchos de tinta para impressora de computador. Está pelo olho da cara. E não dura quase nada. Mesmo aproveitando as promoções dos remanufaturados, ainda sai caro. Daí alguém comparou o preço de um cartucho e de uma impressora nova. Se for comprar um cartucho novo, sai quase o preço de uma impressora. O remanufaturado está sendo comercializado pela metade do preço. Mesmo assim está muito caro.

Esta aconteceu comigo: Em casa tínhamos uma Brastemp antiga, aquela que virou símbolo de qualidade. Afinal quem não ouviu aquele comercial que diz: “Não é nenhuma Brastemp?. Pois é: a nossa estava ficando velhinha e resolvemos investir numa nova. Compramos a mais moderna, que custou lá seus R$ 900 a R$ 1.000 na época. Encostamos a velha e começamos a utilizar a nova, dessas que lavam com água quente e tudo o mais. Pois não durou três meses além da garantia prevista pela fábrica e já apresentou o primeiro problema. Chamamos um técnico e o triste veredicto: “problema é no painel e não há outro remédio: tem que trocar”. Fizemos outra pesquisa e o mesmo resultado. O dito painel custa em torno de R$ 300 a R$ 400 reais, ou seja, quase a metade do custo da máquina. Mais o serviço do técnico, ultrapassaria esta metade. Encostamos a nova e reativamos a velha. Resultado: a própria Brastemp já não é mais a mesma Brastemp de outrora. Está tudo descartável.

Antigamente a gente comprava um eletrodoméstico ou qualquer coisa de maior utilidade e durava a vida inteira. Se transformava em herança. Basta lembrar das velhas geladeiras, dos antigos televisores ou dos velhos carros, que rodavam anos e nunca apresentavam uma ferrugem sequer na lataria. Passavam de pai pra filho, de filho pra neto e assim ia.

E os computadores, então? Você sai da loja com o mais moderninho que existe e quando chega em casa já tem que atualizar. Num prazo de meses, só jogando fora mesmo. Nem placa, nem gabinete, monitor ou mesmo teclado. Tudo fica defasado, tudo é descartável. Tanto que muitas empresas estão optando por aluguel por que a incorporação no patrimônio, sem dúvida, é dinheiro no lixo.

Parece que virou prática na indústria programar a vida útil dos seus produtos já para pouco tempo.

Talvez fosse oportuno a criação de uma lei que obrigasse a especificação de uma estimativa de vida útil para produto de maior durabilidade evitando que o consumidor se obrigue a “jogar no lixo” alguma coisa que ele compra com a esperança fazer um “bom negócio”. E não satisfaz apenas o “termo de garantia” oferecido. Ou será que a garantia tem que ser a data limite para o uso daquele produto? Que ruim, hein!!! Temos que comprar uma geladeira a cada seis meses, uma máquina de lavar a cada oito, um ferro elétrico a cada cinco a dez semanas e assim vai.

E lembrar que semana passada o Dieese calculou que o salário mínimo ideal para o brasileiro deveria ser em torno de R$ 1.470, enquanto o legalmente aprovado ficou em apenas R$ 240. Este sim, igualmente a qualquer produto industrializado, figura prioritariamente na lista dos descartáveis.

Osni Gomes

(osni@pron.com.br) é editor em O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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