Na Venezuela, oposição reclama do processo eleitoral

Chacao, distrito elegante de Caracas, é um forte reduto do principal candidato de oposição à presidência da Venezuela, o governador licenciado de Zulia, Manuel Rosales. À tarde, do lado de fora de um dos centros de votação do bairro havia poucos eleitores na fila. Em contraste com a votação nos morros mais pobres, como o 23 de Enero, Catia e La Bandera – onde os fiscais do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) passavam vários minutos explicando aos eleitores como usar a urna eletrônica -, votação em Chacao era rápida.

Na rua, uma partidária de Rosales, Patricia Villagas, buscava jornalistas e observadores internacionais para fazer uma denúncia: a de que a tinta indelével, aplicada no dedo mínimo dos eleitores depois da votações, poderia ser removida com álcool e acetona. Para tentar provar isso, ela tentava limpar o dedo de eleitores que deixavam o colégio.

"Queremos um processo justo, uma eleição limpa. Quero viver numa democracia de verdade", disse Patricia ao Estado. "Se meu candidato perder numa eleição justa, aceitarei o resultado sem problemas, democraticamente. Mas isso (o fato de a tinta supostamente poder ser removida) é sinal de estão tramando algo, que alguém com mais de um título de eleitor pode votar mais de uma vez.

A reportagem do Estado procurou dois representantes do CNE no interior do colégio e perguntou sobre a tinta. Uma delas, chamada Raquel, assegurou que ela não poderia ser removida totalmente de nenhum modo. Ao saber que Patricia estava do lado de fora demonstrando que a tinta não era confiável, Raquel correu em direção à saída. "Essas coisas me mortificam", disse.

Ao encontrar-se com a partidária de Rosales, a representante do CNE argumentou que Patrícia ainda tinha resquícios da tinta na cutículas, apesar da tentativa de limpeza com álcool e acetona. "Sobrou algum resquício porque eu não estou com a intenção de promover uma fraude", afirmou Patricia. "Mas se eu tivesse aplicado antes um esmalte incolor, poderia ter removido a tinta totalmente." A funcionária eleitoral balançou a cabeça e voltou ao colégio.

Rosales votou em seu Estado, na cidade de Maracaibo. Em rápida declaração à imprensa, evitou falar em manipulação do processo eleitoral, mas fez um apelo às autoridades do CNE para que apurassem e resolvessem rapidamente "inconvenientes registrados em alguns centros onde historicamente o resultado não é favorável ao outro candidato (Hugo Chávez)".

Rosales chamou a atenção para o fato de problemas como defeitos nas máquinas e a ausência de eleitores registrados nas listas terem sido detectados – a maior parte deles em seções nas quais a oposição tem vantagem.

"Não aceitaremos um processo eleitoral dessa forma. Onde essas coisas ocorrerem, vamos protestar e evitar que a votação prossiga até que tudo esteja restabelecido", declarou o candidato. "Se as máquinas não funcionam como se espera, a eleição deve ser manual. Mas, em todo o caso, o CNE tem de tomar as medidas necessárias.

Um dos fatores de atraso na votação e causa de polêmica entre a oposição e as autoridades judiciais foi a utilização de aparelhos de captação eletrônica da impressão digital dos eleitores. Esse dispositivo foi adotado durante o referendo revogatório de 2004, promovido pela oposição para tentar revogar o mandato de Chávez, para evitar que o mesmo eleitor votass.

mais de uma vez. No sábado, no entanto, um dos principais assessores de Rosales, o jornalista Teodoro Petkoff, disse que a providência era desnecessária e inútil. Segundo Petkoff, a presença do aparelho chamado "captahuellas" poderia dar aos eleitores a impressão de que o sigilo de seu voto poderia ser violado. "O captahuellas pode servir como um instrumento de intimidação do governo, mas não tem nenhuma utilidade e o eleitor pode votar livre e tranqüilamente porque o sigilo de seu voto está garantido", declarou.

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