Zooterapia é ferramenta de recuperação

Já é comprovado que a convivência com animais influencia na melhoria da qualidade de vida das pessoas. Porém, um grupo de profissionais da Divisão de Dinamização Cultural do Departamento de Zoológico de Curitiba acredita que o contato com os bichos também pode auxiliar na recuperação de pessoas doentes e no desenvolvimento mental e físico de portadores de necessidades especiais.

Há dez anos, integrantes da Divisão levam animais vivos a hospitais, asilos e instituições de educação especial, desenvolvendo uma atividade conhecida como zooterapia. Segundo o advogado Jean Ramon Soto Franco, que coordena os trabalhos, a idéia de realizar a zooterapia em instituições curitibanas surgiu na década de oitenta.

Naquela época, um especialista em ornitologia (estudo de pássaros) do Museu de História Natural do Paraná foi à França e conheceu um trabalho que era desenvolvido em hospitais daquele país com a utilização de animais empalhados. Em 1986, o ornitólogo começou a desenvolver o mesmo trabalho em instituições da capital, levando animais empalhados ao conhecimento de crianças e adultos.

A atividade teve curta duração e, em 1995, o pessoal da Divisão de Dinamização teve a idéia de realizar o mesmo com animais vivos de índole pacífica, tanto domésticos quanto selvagens. Assim, alunos de escolas especiais, moradores de asilos e pacientes dos setores de pediatria dos hospitais começaram a receber a visita de coelhos, porquinhos-da-índia, pintinhos, jabutis e mesmo jibóias.

?Não é qualquer animal, mesmo que manso, que pode ser levado à zooterapia. Todos os bichinhos que participam da atividade vivem em uma sala especial, com condições assépticas extremas, não entram em contato com outros animais e passam por controle de veterinário. Quando nascem, antes de serem levados aos pacientes, também passam por um período de quarentena?, explica a bióloga Claudia Regina Bosa.

Em algumas instituições, antes de terem acesso aos bichos, os pacientes ou alunos assistem a um teatrinho sobre preservação feito pelos próprios integrantes da Divisão. Na seqüência, os animaizinhos são soltos em uma determinada sala (com exceção da jibóia) ou levados ao leito de pessoas que não podem se locomover. ?Elas podem acariciar os animais, pegar no colo e ver como eles andam. Todos os bichos utilizados são extremamente mansos. Por isso, não há riscos de ocorrerem mordidas ou arranhões?, diz a bióloga.

A zooterapia geralmente é promovida nas quartas-feiras. Em média, o trabalho é realizado em quatro instituições diferentes ao mês. ?Noventa e oito por cento dos pacientes aceitam muito bem o trabalho que realizamos. Às vezes acontece de, no começo, algumas crianças ficarem com um pouco de receio de brincar com os animais, mas logo o medo é vencido?, contam Jean e Claudia.

Equoterapia é difundida em todo o mundo

Além de serem ótimos companheiros, os cavalos também podem ajudar no desenvolvimento de crianças e adultos portadores de deficiências físicas e mentais. Os benefícios de sessões de terapia com eqüinos são cada vez mais difundidos pelo mundo. Em alguns países, a prática é conhecida como hipoterapia. Entre os brasileiros, é chamada de equoterapia.

Na maioria das vezes, os pacientes submetidos à atividade não montam sozinhos. Eles são acompanhados por uma ou duas fisioterapeutas que ficam nas laterais e uma pessoa que puxa o cavalo. Durante as sessões, são realizados exercícios de relaxamento, alongamento e fortalecimento muscular que mais parecem brincadeiras, mas que contribuem bastante com o desenvolvimento motor e cognitivo.

?As crianças adoram a equoterapia. Os exercícios geralmente consistem, entre outras coisas, em alcançar objetos, deitar e colocar argolas nas orelhas dos cavalos?, explica a fisioterapeuta Cleunice Siqueira Rodrigues, que realizou curso de equoterapia na Itália. ?É muito mais divertido e menos cansativo do que sessões de fisioterapia comuns?.

Estímulos

Segundo Cleunice, o cavalo é considerado bastante eficiente em sessões terapêuticas porque tem o passo e um desvio de anca muito parecido com o do ser humano. ?Ele anda em diagonal e produz movimentos tridimensionais (para a frente e para trás, para cima e para baixo e para as laterais) que se reproduzem em quem está montado. A geração simultânea desses movimentos não é possível em nenhum outro tipo de exercício de fisioterapia?, diz.

A passada do cavalo também provoca algumas reações automáticas de equilíbrio e retificação do tronco em quem está montado. Ela estimula a dissociação do quadril e contribui para que, com o passar do tempo e o fortalecimento da musculatura, algumas pessoas com dificuldades de locomoção consigam ficar em pé e mesmo andar. ?Por minuto, o paciente que permanece em cima do cavalo recebe 180 estímulos que vão direto ao sistema nervoso central?.

Indicações

Porém, não é qualquer animal que pode ser utilizado na equoterapia. Para a atividade, o importante não é a raça, mas que o cavalo tenha boa conformação, bom alinhamento das patas dianteiras e traseiras e seja dócil. O pônei, por exemplo, é contra-indicado, pois tem o passo muito curto e gera estímulos muito fortes ao paciente.

Também não são todas as pessoas que podem se submeter a prática. Ela é bastante indicada para portadores de paralisia cerebral, síndrome de Down, autismo e hiperatividade, mas pode ser prejudicial a quem tem problemas cardíacos, respiratórios, escoliose evolutiva e luxações. Por isso, antes de iniciarem o tratamento, os pacientes devem passar por avaliações prévias.

Na capital, a terapia com cavalos é realizada na Sociedade Hípica do Paraná. As sessões, que duram cerca de meia hora, custam entre R$ 25 e R$ 30. (CV)

Expectativa e muita curiosidade nas escolas

Responsáveis por instituições que recebem a visita dos integrantes da Divisão de Zoológico aprovam a zooterapia. A diretora da Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional, Valéria Tim Girardi, revela que o trabalho é desenvolvido na instituição há vários anos. No local, os animais sempre são recebidos com muita festa pelos alunos que aguardam ansiosamente a visita especial.

?A reação dos alunos é maravilhosa. Eles ficam realmente encantados com os animais e expressam muita curiosidade, o que se tornou muito importante?, afirma. ?Os bichinhos também despertam sentimentos geralmente não manifestos no dia a dia. Por isso, a zooterapia permite que trabalhemos com maior eficiência a afetividade?.

A psicóloga e coordenadora do setor de voluntariado do Hospital Pequeno Príncipe, Rita de Cássia Lous, conta que a atividade com os animais contribui para que a permanência no hospital seja uma experiência menos traumática às crianças. ?O contato com os bichos faz com que, posteriormente, os pacientes passem a se relacionar melhor com a equipe médica e aceitar com mais facilidade os procedimentos que envolvem o tratamento?.

Rita acredita que a zooterapia pode ajudar no processo de recuperação das crianças. ?É comprovado que a alegria aumenta a imunidade do organismo. Quando os animais chegam, as crianças ficam muito contentes. Elas conseguem se distrair e demonstram bastante carinho pelos bichinhos?, afirma. (CV)

Desenvolvendo a afetividade e auto-estima

A equoterapia também desenvolve a afetividade e a auto-estima dos pacientes. A convivência com os cavalos faz com que eles desenvolvam um carinho grande pelo animal e também se sintam confiantes por conseguirem dominá-los.

?Minha filha começou a fazer equoterapia há dois anos, por indicação de um neurologista. Além de se tornar mais carinhosa, ela passou a controlar mais o tronco, engatinhar e mesmo a ficar de pé com o auxílio de algum tipo de apoio. Os resultados são bastante visíveis?, comenta a auxiliar de escritório Graziela da Silva, mãe da pequena Giovana, de 5 anos, que tem paralisia dos membros inferiores.

Segundo Graziela, a menina realiza sessões com cavalos duas vezes por semana, além de fisioterapia comum, que também é importante. Ela sempre mostra boa disposição para a equoterapia, o que nem sempre acontece durante as sessões de exercícios convencionais. ?A fisioterapia comum é cansativa, não tem o divertimento demonstrado nessa outra opção. Já para a equoterapia minha filha está sempre animada. Ela enxerga a prática como uma brincadeira?. (CV)

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