Tatuagem cresce, seja por paixão ou modismo

"A tatuagem é, acima de tudo, uma obra de arte. Só não se perpetua como uma pintura a óleo porque a pele se desintegra." A definição é do tatuador Durval Frederico Cassiano, o "Fredd", de 47 anos, que há 25 trabalha como tatuador profissional. Para ele – que tem um braço e as costas cobertas de tatuagens, além de outros desenhos espelhados pelas costelas e pernas -, a tatuagem é uma paixão, que a cada dia ganha mais adeptos. E as mulheres já são a maioria.

A body piercer Silvana Bottene fez a primeira tatuagem há 12 anos, e hoje não sabe quantificar o número de desenhos que tem pelo no corpo. A última – a Noiva do Frankenstein – foi feita na semana passada. Silvana diz que sempre achou bonito ter tatuagem, e como começou a trabalhar na área, acabou fazendo várias, e afirma que não se arrependeu de nenhuma, nem mesmo de ter coberto o braço com diversas imagens.

Segundo o tatuador Vander da Cruz, de Brasília, cerca de 80% dos tatuados hoje no Brasil são mulheres entre 18 e 30 anos. Elas se destacam na estatística porque fazem as menores tatuagens – desenhos de borboletas, flores e estrelas são os preferidos. Já os homens escolhem os maiores desenhos. Para Vander, existem dois grandes grupos de clientes: os que consomem (que fazem tatuagem por modismo) e os que gostam (que pesquisam e se interessam pela técnica). O grande desafio atualmente, diz o tatuador, é difundir a profissionalização da atividade.

Picareta

Apesar de não ser uma profissão reconhecida, a atividade de tatuador vem se difundindo no País. Segundo Vander, já existem algumas associações e sindicatos que vêm buscando essa legalização, principalmente para combater os "picaretas" que atuam na área. "Os especuladores não cumprem as exigências da Vigilância Sanitária e acabam denegrindo o mercado", observa. Ele explica que hoje os profissionais precisam utilizar materiais descartáveis, esterilizar os equipamentos e manter os ambientes limpos e higienizados.

"As exigências são as mesmas para o funcionamento de um consultório odontológico ou clínica estética. A falta de informação e especulação econômica acaba atraindo os consumidores muitas vezes pelo preço, e não pela qualidade", ressalta o tatuador. Vander destaca ainda que uma tatuagem de qualidade não precisa de retoques, e que o consumidor precisa duvidar sempre dos locais que cobram muito barato e que estão instalados em locais duvidosos, como bares, lojas ou salões de beleza.

O trabalho desses especuladores, diz o tatuador, é que tem feito persistir o preconceito que existe em relação à tatuagem. "A tatuagem ainda é muito marginalizada porque carrega o estigma dos presídios e das guerras. Mas hoje tudo isso mudou, e a tatuagem é uma arte feita por profissionais", opina Vander. Na avaliação de Fredd, que mora em Mogi Guaçu (SP), nas cidades do interior o preconceito é ainda maior, assim como a concorrência desleal com os picaretas. Silvana Bottene diz que ainda hoje ouve muitos comentários quando passa na rua. "As frases mais comuns são ‘que horror!’ e ‘Nossa Senhora’, e nem sempre são faladas por pessoas mais velhas", relata.

Serviço

Termina hoje, às 23h, no Centro de Convenções de Curitiba, a II Expo Tatoo, que reúne tatuadores do Brasil e exterior. A proposta é trazer a todos os amantes de tatuagens e body piercing as novidades existentes no mercado. Além da feira, estão sendo realizadas palestras, concursos e tatuagens. O Centro de Convenções fica na Rua Barão do Rio Branco, 370. Ingressos custam R$ 7.

No Brasil, vista como símbolo de rebeldia

A tatuagem ainda é vista como um símbolo de rebeldia, e, no Brasil, não tem identificação com nenhum segmento específico. A avaliação é do antropólogo da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Carlos Alberto de Freitas Balhana, que há 30 anos trabalha com religiões e costumes curitibanos. Segundo ele, em tribos da África e Ásia, a tatuagem, assim como ornamentos e mutilações, é um símbolo de religiosidade e posição social. "Mas, no Brasil, a cobrança da sociedade ainda é por um corpo limpo e bem ordenado", comenta.

No entendimento do antropólogo, os adeptos de tatuagem pertencem a microgrupos que fazem da técnica uma identidade. O crescimento no número de tatuados está ligado a um modismo, muitas vezes influenciado pela televisão. Já esse crescimento entre as mulheres pode ter uma leitura de rebeldia e busca de um momento de felicidade. "É uma microfelicidade, pois concentram no local da tatuagem uma energia, que para elas têm uma conotação de satisfação", pondera Balhana. Povos ciganos, hindus e chineses são os que têm fortes influências na difusão da tatuagem, "assim como os índios, que até sofrem preconceitos". (RO)

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