ONGs pedem fim de animais em circo

Integrantes de organizações não-governamentais de defesa dos direitos dos animais estão trabalhando pela proibição da entrada, em Curitiba, de circos que utilizem bichos em suas apresentações. Nos últimos meses, eles têm realizado uma série de manifestações pelas ruas da cidade com o intuito de chamar a atenção da população para o tema. O slogan utilizado é: ?Circo legal não tem animal?. 

Há dois anos, está em tramitação na Câmara de Vereadores da capital um projeto de Lei, de autoria do vereador Jair Cézar, que propõe a proibição. O mesmo já foi aprovado em primeira votação, mas está demorando para ir à segunda por causa da contrariedades na apresentação de uma emenda. A informação é da presidente da organização não-governamental SOS Bicho, Rosana Vicente Gnipper.

?O problema é que, quando o projeto foi aprovado em primeira votação, um outro vereador apresentou uma emenda dizendo que circos que apresentassem laudo veterinário comprovando que seus animais estão em boas condições poderiam se apresentar normalmente. Não estamos aceitando isso, pois descaracteriza a proposta, que tem como objetivo a proibição total?, afirma.

Segundo Rosana, independente dos bichos serem mantidos em boas ou más condições nos circos, eles são vítimas de maus-tratos por terem sido retirados da natureza com a finalidade de trabalhar em prol da diversão dos seres humanos. ?Só o fato de tirar os animais de seus habitats naturais já é uma violência. Além disso, na grande maioria dos circos, os bichos são mantidos em alojamentos precários, não recebem a melhor alimentação e são transportados de um lugar a outro em condições inadequadas.?

O vereador Jair Cézar, autor do projeto, confirma as informações. Ele revela que resolveu propor a proibição depois que percebeu que muitos organizadores de espetáculos circenses não demonstram grande responsabilidade com seus animais. ?Tive conhecimento, entre outras coisas, que elefantes são mantidos acorrentados pelos pés em espaços de quatro metros quadrados e que leões, após o término dos espetáculos, são colocados em jaulas de pequena largura e apenas um metro de comprimento, ficando impedidos de circular. Este tipo de desleixo não pode continuar acontecendo. Temos de nos conscientizar que os animais têm os mesmos sentimentos que a gente, não devendo ser submetidos a qualquer tipo de sofrimento?, declara.

Na opinião de Rosana, para que o trabalho dos animais pare de ser utilizado, a sociedade deve se conscientizar dos problemas que envolvem a questão e deixar de freqüentar circos que apresentem tanto bichos selvagens quanto domésticos. ?Os maus-tratos não ocorrem nos picadeiros, mas sim nos bastidores, onde o público não tem acesso. Por mais que um leão receba os melhores cuidados veterinários, ele sai do palco e é enjaulado. A função dos animais não é divertir os seres humanos.?

A integrante da SOS Bicho deixa claro que, como outras pessoas que trabalham em prol dos direitos dos animais, não é contra os circos. Busca apenas que eles valorizem o talento humano e não o trabalho dos bichos.

Mobilização conseguiu proibições no PR

Foto: Anderson Tozato

Flagrantes de maus-tratos são constantes em circos.

No Paraná, a entrada de circos que utilizam o trabalho de animais já é proibida nas cidades de Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, e Paranaguá, no litoral. Em Ponta Grossa, a proibição é fruto de mobilização popular e foi decretada no ano de 2004, pela Lei Municipal 7924.

?Foi uma conquista muita grande para os ponta-grossensses e uma vitória para os defensores dos animais. Entretanto, a proibição já foi desrespeitada uma vez e temos de trabalhar para que isto não aconteça novamente?, diz a integrante do Grupo Fauna de Proteção de Animais de Ponta Grossa, Andreza Jacobs.

O desrespeito aconteceu este ano, quando um circo com animais obteve uma liminar na Justiça e conseguiu se apresentar. Dias depois, o mesmo circo perdeu a guarda de todos os seus animais em uma cidade em Santa Catarina. Os bichos foram apreendidos por decisão do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que identificou situações de maus-tratos.

Em Paranaguá, a proibição teve início em setembro do ano passado, também graças à mobilização popular. ?Fizemos uma série de trabalhos de conscientização da população em relação ao assunto. Trabalhamos principalmente junto às crianças, que nos ajudaram bastante para que a proibição acontecesse?, revela a promotora do bem-estar de animais da Sociedade Protetora dos Animais de Ponta Grossa, Francis Nogueira.

Um caso de desrespeito também já foi verificado na cidade litorânea. Este ano, um circo com bichos conseguiu se apresentar e ir embora do município antes de ser multado.

Exterior

Fora do Brasil, de acordo com a SOS Bicho, a utilização de animais em espetáculos circenses já é proibida em países como Índia, Costa Rica, Áustria, Finlândia, Israel, Singapura e Suécia. Em outros locais, como Austrália, Suíça, Dinamarca e Grã-Bretanha, são impostas restrições. Além disso, a proibição também existe em algumas províncias da Grécia, Argentina e Canadá. (CV)

Obediência é conseguida por meio de dor e punições

A forma como os bichos de circo são tratados também revolta os defensores dos direitos dos animais. Segundo a veterinária Carmen Brauninger, que também integra a SOS Bicho, os animais selvagens – como leões, ursos, tigres, elefantes, entre outros – não têm o mesmo prazer que os cães de fazer gracinhas para agradar aos donos. Por isso, eles só aprendem truques e a obedecer através da dor.

?Os ursos, por exemplo, aprendem a dançar com utilização de chapas quentes. Os adestradores fazem com que os animais associem uma determinada música à dor provocada pela chapa queimando suas patas. É devido à dor que eles começam a pular como se estivessem dançando. Em frente ao público, a chapa não é usada, mas os ursos escutam a música e já a associam ao sofrimento, fazendo o que os adestradores querem que eles façam?, comenta.

Carmen também informa que pessoas que trabalham com o adestramento de leões, tigres e elefantes sempre têm em mãos um chicote ou bastão com ponta capaz de ferir os bichos, caso estes resolvam atacar ou desobedecer. ?Desta forma, os animais obedecem porque sentem medo e não porque estão adestrados.? (CV)

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