Mulheres são maioria nos bancos das universidades

A revolução feminina nos anos 70s foi a largada para um processo progressivo da entrada das mulheres no mercado de trabalho. Como conseqüência, a procura pelos cursos de nível superior por elas também teve um crescimento gradativo nas últimas três décadas.

Segundos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), elas já são a maioria nos bancos das universidades. Entre os 626.617 formandos em nível superior de 2004, havia 157.373 mulheres a mais na somatória, o equivalente a 62,5% do total. No Paraná, a proporção de mulheres também foi maior, com 9 mil mulheres a mais do que homens, representando 60% dos formandos de 2004 no Estado.

Se, no âmbito geral, as mulheres já dominam os bancos das faculdades, alguns cursos, em especial, são formados essencialmente por alunas. É o caso do curso de Secretariado Executivo, que existe há 22 anos na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A diretora do curso, Márcia Cecília Pilla, diz que no mercado de trabalho não há preferência de sexo por parte dos contratantes. ?As empresas dificilmente especificam se querem um profissional do sexo masculino ou feminino, especialmente as multinacionais. Há mercado para todos?, diz.

Então, como explicar a maioria esmagadora de mulheres no curso? Só para se ter uma idéia, a média é de apenas três homens a cada turma de 80 alunos. Para Maria Cecília, a questão está diretamente ligada ao preconceito pela profissão. ?As pessoas não conhecem direito o curso nem a atividade. Acabam achando que a profissão está vinculada à subordinação. Os homens acreditam que nunca chegarão a chefes nesta profissão?, acredita a professora.

Na origem histórica da atividade, curiosamente, os homens dominavam o ?mercado?, desde os tempos dos escribas aos assessores diretos. Mas durante a Segunda Guerra Mundial, as mulheres tiveram que procurar trabalho e o secretariado era uma das áreas de grande demanda. Elas acabaram por dominá-lo. E a tendência se manteve.

Segundo Maria Cecília, os homens estão perdendo tempo ao se manter longe do Secretariado Executivo, curso que pode ser concluído em três anos. ?É um mercado promissor tanto para mulheres quanto para homens, enquanto as áreas de Economia e Administração estão saturadas?, acredita. Um estagiário de Secretariado Executivo pode ganhar até R$ 1.500,00 e depois de formado, o salário médio é de R$ 2.500,00. Além da PUCPR, o curso de Secretariado Executivo também é oferecido pela UniBrasil e pela Facinter.

Nos cursos de Pedagogia, homens são raras exceções

Ciciro Back/O Estado
A atividade de docente foi uma das primeiras a ser conquistada e aceita pela sociedade.

Nas mais ternas lembranças de infância, a imagem da primeira professora está marcada na mente da maioria das pessoas. Esta é uma prova de que a profissão de professor tem um forte vínculo com o sexo feminino, especialmente nos ensinos básico e fundamental. A tendência pode ser confirmada na análise da procura pelo curso de Pedagogia, que está vinculado à área de pesquisa educacional.

Segundo a diretora do curso na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Maria Elizabeth Miguel, cerca de 97% dos estudantes do curso são mulheres. ?Na verdade, é um dado variável, mas há turmas com apenas um aluno do sexo masculino entre os 60?, conta. No caso dos rapazes que fazem o curso, um dado curioso é a origem social deles. ?Geralmente são de classe média ou classe média baixa. É o perfil deles?.

A origem da característica feminina do curso está no passado, quando o magistério passou a se caracterizar como uma atividade desenvolvida por mulheres. ?Os homens até faziam magistério, mas como porta de entrada para outros cursos superiores. As mulheres já faziam o magistério com intuito de lecionar?, diz a diretora.

Quando as mulheres começaram a ensaiar a invasão no mercado de trabalho, a atividade de docente foi uma das primeiras a ser conquistada e aceita pela sociedade. A tendência se seguiu, ganhando um perfil de dedicação e paixão pela arte de educar, mesmo que a compensação financeira nem sempre é a esperada. ?As mulheres que abraçam a profissão de professora têm no trabalho uma grande paixão. Poder ensinar uma criança ou um adolescente é algo que não tem preço?, considera. Talvez por toda a sensibilidade que cerca a profissão de professor, as mulheres sejam a maioria na área.

A grande procura pelo curso de Pedagogia mostra também que a vontade de crescer profissionalmente comprova o quanto as mulheres são guerreiras. ?Entre nossas alunas, há muitas em projetos de pesquisas na área educacional e outras se empenhando para se tornarem orientadoras ou coordenadoras. Esse espírito de luta é uma característica marcante nas mulheres?, aponta. Um exemplo é a tripla jornada de algumas de suas alunas. ?Há alunas que dão aulas em dois períodos e freqüentam o curso à noite para se aprimorar. Elas ainda cuidam da família?. (GR)

Participação feminina na área de saúde é maciça

A área de saúde também é marcada pela boa presença de mulheres nas universidades. Entre os cursos considerados mais procurados pelas mulheres nesta área estão os de Nutrição, Enfermagem e Farmácia. Quando o assunto é Medicina, a proporção entre homens e mulheres é mais equilibrada.

Segundo o coordenador do curso de Farmácia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Wunder, o perfil tem mudado um pouco nos últimos anos, mas a maioria ainda é formada por mulheres nos bancos da faculdade. ?Nos anos 90s aconteceu um fenômeno interessante, com uma procura acima da média das mulheres pelo curso de Farmácia. Havia turmas com apenas 2 ou 3 alunos do sexo masculino?, conta o professor.

Mas nem sempre foi assim. Até os anos 80s, quando as mulheres ainda efetivavam a participação mais expressiva no mercado de trabalho, a proporção no curso de Farmácia era meio a meio. ?Até hoje, posso garantir que para o mercado de trabalho, não é feita muita distinção entre um sexo e outro, mas há muito mais mulheres saindo das universidades?.

Com a invasão das mulheres nas faculdades, a procura pelo curso cresceu proporcionalmente e Wunder tem uma teoria específica sobre o curso que coordena. ?Percebo que as mulheres são mais detalhistas, mais cuidadosas e essas características são fundamentais para a profissão. Noto isso nas minha alunas?, comenta. Ele acredita que, por isso, não só no curso de Farmácia as mulheres se dêem bem. ?Nutrição e Enfermagem também são cursos mais procurados por elas?.

Para o professor, o ambiente de trabalho também influencia na hora da escolha profissional. ?Nas engenharias, por exemplo, a procura das mulheres ainda é menor em relação aos homens, acredito muito que em função do ambiente de trabalho, como as obras. O laboratório é um local em que elas certamente se sentem mais à vontade?. (GR)

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