Missão dos EUA via no governo Lula foco antiamericano

Um governo permeado pela corrupção, defensor de posições polêmicas em relação ao Irã e com um profundo sentimento antiamericano. Essa era a percepção que a diplomacia americana mantinha sobre o governo Lula, de acordo com mensagens sigilosas trocadas pelo embaixador no Brasil e o Departamento de Estado entre 2008 e 2009. As mensagens foram divulgadas ontem pela organização WikiLeaks.

Os documentos escancaram uma realidade de desconfiança mútua e uma acirrada disputa no interior do governo brasileiro sobre qual estratégia adotar em relação a Washington. Do lado americano, não se esconde a necessidade de contar com o Brasil como um estabilizador na América Latina, obrigando a Casa Branca a insistir em aprofundar a relação.

Isso não impediu, porém, que os diplomatas americanos fizessem avaliações duras sobre Lula, indicando uma gestão marcada pela corrupção entre seus “mais próximos aliados”, assolado pela “praga” da compra de votos e sem ter dado uma resposta ao crime no Brasil. A crítica é feita pelo ex-embaixador americano em Brasília, Clifford Sobel. “O governo Lula tem sido afetado por uma grave crise política”, afirma o documento, citando “escândalos e tráfico de influência”.

“A principal preocupação popular – crime e segurança pública – não diminuiu durante sua administração (de Lula)”, informa um telegrama enviado ao Departamento de Estado. Um outro documento deixa clara a percepção americana sobre o Brasil: “Cooperação amistosa. Mas não uma forte amizade.”

Para Washington, a resistência vem diretamente do Itamaraty que “mantém uma tendência antiamericana”. “O governo de centro-esquerda tem evitado uma cooperação mais estreita em temas políticos e militares e tem nos mantido a uma certa distância dos temas de segurança.”