Marte: A invasão dos terráqueos

Marte jamais esteve tão próximo da Terra nos últimos 73.000 anos. Aproveitando esta configuração excepcional, as agências espaciais lançaram uma verdadeira esquadrilha de espaçonaves em direção ao planeta vermelho. Em 2 de junho de 2003, ESA, Agência espacial européia, lançou a sonda Mars Express que partiu levando um módulo de aterrissagem inglês Beagle 2; ambas irão se reunir às sondas gêmeas Mars Exploration Rover (MER) da Nasa, que levam dois jipes sofisticados – dignos herdeiros mais poderosos do Sojourner, famoso robô da missão Pathfinder -, lançadas respectivamente em 10 de junho e em 7 de julho de 2003.

Se nenhuma tragédia vier a ocorrer, a Terra possuirá até sete (7) sondas em atividade nas vizinhanças de Marte, em 2004, um verdadeiro recorde. De fato, além dos dois jipes robôs norte-americanos, o módulo de aterrissagem Beagle 2 inglês e a sonda Mars Express européia, já se encontravam, no planeta vermelho duas sondas norte-americanas e uma japonesa. As dos EUA são a Mars Global Surveyor que, lançada em 7 de novembro 1996, chegou em Marte em 12 de setembro de 1997, e Mars Odyssey que, lançada em 7 de abril de 2001, chegou em Marte em 24 de outubro desse mesmo ano. Finalmente, a sonda japonesa Nazomi, lançada em 3 de julho de 1998, cuja chegada – retardada por problemas técnicos -, é prevista para março de 2004.

A melhor época para observar Marte é quando este planeta e a Terra, além de se encontrarem do mesmo lado em relação ao Sol, atingem a menor distância possível entre si. Isto ocorre quando os três astros se encontram alinhados e a Terra ocupa a posição central. Neste caso, visto do nosso planeta, Marte e o Sol estariam em posições opostas no espaço; razão pela qual esta configuração planetária é denominada oposição. Diz-se que Marte está em oposição ao Sol. Nessa época, o planeta nasce, em geral, às 18 horas, quando o Sol se põe; passa mais próximo do zênite à noite, deitando-se às 6 horas, quando o Sol está nascendo.

Nem todas as oposições, que ocorrem de dois em dois anos, são favoráveis, em virtude das órbitas dos planetas não serem circulares, e sim elípticas. As posições mais favoráveis – a distância Terra-Marte é quase mínima – ocorrem quando Marte se encontra no periélio (ponto mais próximo ao Sol), ou em suas vizinhanças. Tais oposições, conhecidas como oposições periélicas, acontecem em geral nos meses de agosto e setembro, quando o planeta se encontra próximo do seu periélio. Por outro lado, as oposições que ocorrem nos meses de fevereiro e março, nas vizinhanças do afélio de Marte, são designadas por oposições afélicas.

Marte esteve muito perto da Terra nas oposições de setembro de 1956 (56 milhões de km), de agosto de 1971 (57 milhões de km) e julho de 1986 (60 milhões de km).

Em 2003, o planeta atingirá a oposição às 13 horas do dia 28 de agosto, sendo que a máxima aproximação à Terra vai ocorre no dia 27 de agosto, quando o planeta terá um diâmetro aparente de 25,1 segundos de arco, magnitude -2,88 e uma distância de 55,758 milhões de km.

Esta aproximação de Marte constitui, para o observador interessado no céu, uma ocasião única para apreciar o planeta a olho nu e com instrumento modesto. Devemos salientar que nestas épocas Marte será um dos mais interessantes objetos celestes visíveis a olho nu, em virtude do seu relativamente rápido deslocamento aparente entre as estrelas, bem como pela sua coloração acentuadamente avermelhada, razão pela qual foi associado a Marte, deus da guerra entre os romanos. Visto através de um telescópio, Marte é um planeta muito decepcionante, pois a sua imagem num pequeno instrumento não é jamais tão espetacular como as obtidas pelas sondas espaciais. Assim, com um telescópio de 50 a 60 milímetros de abertura e um aumento de 100 vezes vai aparecer como um pequeno disco uniformemente colorido de ocre rosado. Nas condições mais favoráveis poder-se-á distinguir, sob o aspecto de um ponto brilhante, a calota polar. Esta calota, branca devida ao gelo que a compõe, será um acidente areográfico de observação notável, em contraste com a coloração rosa do resto da superfície.

Com telescópios superiores a 150 milímetros, poderão ser realizadas algumas observações mais sérias sobre as variações da extensão da calota polar, alterações de tonalidade e aspectos das diferentes marcas superficiais, bem como acompanhar a lenta rotação do planeta de uma noite para a outra. Como a rotação de Marte é um pouco mais longa que a terrestre, só depois de quatro dias de observações sucessivas é que se poderá detectar o deslocamento das configurações marcianas. No fim de 40 dias, o planeta inteiro terá sido observado, se tivermos o cuidado de observá-lo sempre à mesma hora.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, e autor de mais de 70 livros, entre outros livros, do Anuário de Astronomia 2003.Consulte a homepage:
http://www.ronaldomourao.com 

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