Isto, sim, é uma vergonha!

Eu vi, senhores, eu vi! Eu vi, sim, na televisão. Todos viram. E fiquei indignado, explodindo de ódio, porque, graças a Deus, ainda não perdi, de todo, minha capacidade de indignação. Uma autoridade declarou, com todas as letras, que nenhum Governador aceita recolher o Beira Mar em seu Estado porque ele, o bandido, tem um “poder de compra” alto demais… Ó tempos! Ó costumes! Que país é esse, que não consegue manter na cadeia um bandido condenado a quase 400 anos de reclusão… porque ele compra tudo e a todos, com a inesgotável fortuna do narcotráfico! E ele, o pulha, rodeado de soldados (ou seriam guarda-costas fardados?) ria, ria muito com eles, enquanto soltava baforadas desaforadas de seu maldito cigarro. Talvez estivesse rindo ao comentar a forma como estrebucharam, antes de morrer, os quatro desafetos que ele e seus comparsas executaram no presídio de “segurança máxima”(!), na última rebelião. Ou talvez risse da pusilanimidade dos administradores que se renderam a suas exigências. Ou, quem sabe, suas gargalhadas se referissem àquela sensação de segurança que seu “poder de compra” lhe confere… Ou talvez por pensar: – “Será que esses trouxas vão me processar por mais estes 4 homicídios? Para quem já carrega nas costas uma condenação de 400 anos, 30 a mais, 30 a menos, não fazem a menor diferença.”

Estou chegando à conclusão de que perigoso mesmo não é o Fernandinho, mas aquela camarilha que o guarda e extorque. A propósito, alguém perguntava por que será que ele ainda não foi “suicidado” por algum companheiro de cela – ele que só traz problemas para a administração e constitui risco de morte para os companheiros de penitenciária. E, mesmo que venha a cumprir apenas 30 daqueles 400 anos a que foi condenado, tem muito chão pela frente, para atazanar nossa vida.

– Ora, ora! disse alguém. Quem seria louco de matar a galinha dos ovos de ouro? “Galinha dos ovos de ouro”… Custei um pouco a entender o significado disso. Foi então que me lembrei do propalado “poder de compra” do bandidão. Das revistas de “faz de conta” nas celas, realizadas diariamente, mas que não conseguem detectar os celulares, os espetos, as granadas, as armas de fogo, maconha e cocaína. Daqui a pouco, Fernandinho vai fazer parar o país, declarando feriado nacional. Ele vai explodir o Bangu I, com um míssil. E será bem feito para os idiotas que se vendem ao pulha por alguns trocados (ou por alguns milhões) e pensam estar seguros, dessa forma. Bem feito! Vão todos juntos parar no quinto dos infernos!

Já disse isto mil vezes. Eu queria ver se, acorrentados nos calcanhares e nos punhos, nossos rapazes iriam conseguir amotinar-se, escavar túneis, torturar agentes de segurança, fazer facões e estoques, atear fogo nos colchões e nas celas e fugir. Fugir como… se estiverem algemados e acorrentados daquele jeito, como nas penitenciárias do país mais democrático do mundo? Agora, prenderam o Elias Maluco, cujos métodos de tortura fariam Jack, o estripador, vomitar. Se bobearem, se a imprensa continuar dando as dicas para os comparsas (Elias foi capturado… A polícia comemora… Ele e mais meia dúzia de bandidões estão na prisão tal….), então vamos correr perigo maior ainda.

Dia desses, alguém, pondo o dedo na própria chaga, se perguntava: – E por onde anda a Corregedoria dos Presídios (da competência do Judiciário), que tolera que essas penitenciárias continuem a ser dirigidas pelos próprios facínoras? Isto, sim, é uma vergonha! -dizia ele.

Que tal mandarmos um observador aos Estados Unidos para coletar dados da experiência deles no setor? Que tal uma visita aos “Supermax”, destinados a criminosos de alta periculosidade? Ali, onde as penas são cumpridas em celas individuais e todos os movimentos dos presos são monitorados o tempo todo, por câmeras de televisão. Na primeira fase de internamento, o prisioneiro fica trancado 23 horas por dia e somente por uma hora é encaminhado a outro cubículo, onde pode caminhar -mas sem nunca livrar-se das algemas. Ali o preso não pode ouvir rádio, não recebe nem expede correspondência. Nada de telefonemas ou telefones, celulares ou fixos. Nada de visitas, íntimas ou não. Ninguém ali está interessado em facilitar a vida dos pulhas.

Pois é. Já que ele tem contas para ajustar (em matéria de tráfico) com os norte-americanos… mandem o Fernandinho pra lá!

 Albino Freire é juiz de Direito aposentado e professor

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