Instabilidade faz da Guatemala o novo paraíso do tráfico

Há alguns meses, a guerra dos mexicanos contra o narcotráfico monopoliza as atenções do continente, mas há um país na região que vem se deteriorando muito mais rapidamente e agonizando em silêncio: a Guatemala. Com a repressão aos cartéis cada vez mais dura no México, os traficantes encontram um refúgio seguro em território guatemalteco e ameaçam transformar o país num narco-Estado. “A Guatemala está sofrendo as consequências da repressão ao tráfico no México”, disse Maureen Meyer, analista do instituto Washington Office on Latin America. “As instituições guatemaltecas são muito frágeis, por isso o país é uma presa mais fácil para os cartéis.”

Segundo a DEA, agência antidrogas dos EUA, três quartos da cocaína consumida pelos norte-americanos passam pela Guatemala. Analistas calculam que o narcotráfico domine hoje 40% da economia local. Todo o ano, US$ 10 bilhões em cocaína passam pelo país – 10% desse dinheiro é usado para subornar funcionários públicos, políticos, policiais e juízes.

O termômetro da gravidade da situação é a crise política que vive o país. O atual presidente, Álvaro Colom, é acusado de ser o mandante do assassinato do advogado Rodrigo Rosenberg, morto a tiros no dia 11 durante um passeio de bicicleta. Antes de morrer, ele gravou um vídeo acusando o presidente. “Meu nome é Rodrigo Rosenberg e se você estiver vendo este vídeo é porque fui assassinado pelo presidente”, diz a mensagem distribuída no seu enterro.

O motivo seria o fato de ele ser advogado do empresário Khalil Musa, assassinado em abril por ter se recusado a participar de um esquema de corrupção envolvendo governo e narcotráfico. A reação foi imediata. Grupos opositores, organizações não-governamentais (ONGs) e a população saíram às ruas para exigir a renúncia de Colom, mergulhando a Guatemala na pior crise desde a guerra civil, que durou 36 anos e acabou em 1996 com um saldo de 200 mil mortos.

Colom diz que o vídeo é um complô para derrubá-lo, mas para o cientista político Pedro Trujillo, diretor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Francisco Marroquín, na Cidade da Guatemala, a debilidade institucional está deixando o país à mercê do tráfico.

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