Especializados em superar traumas

Ajuda social e psicológica. Além de prestar atendimento legal às mulheres, crianças e adolescentes vítimas de violência, alguns centros especializados já oferecem outros tipos de assistência para evitar que a pessoa se torne vítima novamente ou para ajudar a superar traumas.

?A criação da Delegacia da Mulher já foi um grande avanço. Antes as ocorrências que envolviam violência doméstica eram feitas nos distritos e ficavam no meio de todas as outras. Mas aqui nós não temos psicólogos porque a idéia é não criar o estigma que a Delegacia da Mulher só faz trabalho social?, explica a delegada Darli Rafael. Para preencher essa lacuna, explicou Darli, foi criado há um ano o Centro de Referência e Atendimento à Mulher em Situação de Violência.

Muitas vezes, para que a pessoa possa sair do ambiente onde sofre violência, ela precisa se afastar do agressor. Apesar de a Lei 11.340/06, mais conhecida como Maria da Penha, determinar o afastamento do agressor nos casos de violência doméstica, algumas mulheres vivem sob ameaça. ?Por isso, quando é preciso encaminhamos as mulheres com os filhos para um abrigo e temos alguns convênios para ajudar na colocação profissional?, explica a coordenadora do centro, Terezinha de Almeida dos Santos. ?E fazemos em paralelo o atendimento psicológico, para que a mulher saia da condição de vítima.?

Muitas mulheres que chegam ao centro são encaminhadas pela delegacia ou por postos de saúde. Em um ano foram realizados 425 atendimentos. Segundo Terezinha, muitas mulheres querem resolver o assunto longe do Judiciário e, por isso, procuram ajuda lá. ?As que vêm voluntariamente geralmente não querem denunciar. Mas nós conversamos e tentamos convencê-las a registrar um boletim de ocorrência?, explica Terezinha.

Segundo uma das funcionárias do centro, Zoila Cuervo Martinez, a mudança no comportamento das mulheres vítimas de violência que procuram ajuda psicológica e social é grande. ?Temos uma mulher aqui, de 60 anos de idade, que sofreu violência por 40 anos e só procurou ajuda quando a filha começou a ser vítima de violência também. E quando ela foi se recuperando comentou com a gente que quando chegou aqui se sentia como uma semente no meio das pedras e hoje se sente como uma árvore que pode tudo?, conta.

Crianças: casos complexos

A cada caso de violência contra crianças e adolescentes, outros 20 não são denunciados. O dado é da delegada do Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crime (Nucria), Ana Cláudia Machado. E, dos casos que chegam ao núcleo, que existe há três anos, a maioria é complexa porque, além da violência física, muitas vezes tratam de atentado violento ao pudor ou violência sexual. As denúncias geralmente partem de terceiros.

Muitas vezes a criança não se dá conta do que está acontecendo. Por isso, nesses casos, o trabalho psicológico é fundamental. ?Muitas vezes a criança confunde porque ela tem sofrimento, mas ela tem amor. E não sabe distinguir?, explica a psicóloga do Nucria, Patrícia Plages. ?Por isso, fazemos um trabalho para levantar a demanda?, comenta outra psicóloga do núcleo, Maracélia Muller.

Mas, apesar de o Nucria fazer um trabalho psicológico com as vítimas para constatar o crime e preparar a criança para as conseqüências da denúncia, a psicóloga Rogéria Aguiar, também do Nucria, concorda que ?uma delegacia não é lugar adequado para terapia?. As crianças são encaminhadas ao Hospital de Clínicas e à Universidade Federal do Paraná (UFPR) para tratamento posterior.

Mais denúncias de violência doméstica

?A violência doméstica ganhou destaque com a Lei Maria da Penha. Antes, esse tipo de ocorrência passava despercebida entre outros delitos, como lesão corporal ou ameaça?, constata o tenente Rodolfo Kredens da Silva, comandante da Polícia Militar (PM) de Guarapuava. A cidade é um exemplo do aumento de casos depois da sanção da lei. Com a caracterização desse tipo de crime, os boletins de ocorrência da PM trazem descritos os crimes de violência doméstica. Só em Guarapuava foram registrados 142 flagrantes desse tipo de crime nos 122 dias de vigência da lei. Mas, segundo Kredens, a grande maioria das mulheres não denuncia o crime à Polícia Civil.

?Antes da lei nós não tínhamos como constatar os crimes na hora de fazer o flagrante?, diz o tenente. Ele explica que esses casos são complicados para o policial militar identificar ou interferir porque na hora de fazer o flagrante, depois que os ânimos já se acalmaram, a vítima geralmente desiste da denúncia. ?Com a lei, a PM constata o crime, mas cabe à ofendida iniciar a representação?, explica.

Entretanto, muitas mulheres não dão queixa da agressão. Em fevereiro deste ano, a PM de Guarapuava atendeu 79 ocorrências de violência doméstica. No mesmo mês, a Delegacia da Mulher da cidade recebeu apenas seis queixas desse tipo de crime. ?Geralmente as mulheres que representam contra o agressor estão sofrendo há muito tempo. Mas a PM registra de dois a quatro flagrantes por dia?, cita.

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