Especialista considera improvável uma guerra entre Colômbia e Venezuela

Brasília – A troca de ameaças entre Colômbia e Venezuela, após o assassinato do chefe guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) em território equatoriano, não deve ir além das retaliações diplomáticas. A avaliação é do cientista político José Luciano Dias, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos (Ibep). Ele reforça que não há motivo ou interesse direto por parte de ambos os países para uma possível situação de guerra.

?Foi uma ação do governo colombiano contra uma guerrilha colombiana. A Venezuela e o Equador sabem que dão abrigo à essas forças guerrilheiras em seus territórios e sabem, portanto, que estavam vulneráveis a esse tipo de ação do governo colombiano", disse Dias em entrevista ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional. "Os dois [países] estão protestando, mas são malandros nisso, sabem o que podia acontecer. O governo colombiano apenas aproveitou uma oportunidade para adotar uma postura mais dura contra a guerrilha.?

O conflito entre os países vizinhos começou após uma operação militar na fronteira entre a Colômbia e o Equador no último sábado (1º), quando o porta-voz e número dois das Farc, Raúl Reyes, foi morto pelo Exército colombiano em território do Equador.

Luciano lembrou que, na fronteira entre os países, há milhares de quilômetros a serem vigiados em caso de guerra.  Ele ressaltou ainda que nem a Venezuela nem a Colômbia possuem forças armadas capazes de uma operação militar sustentável no meio da selva e sem objetivo político.

Para o especialista, o fato de a Venezuela ter enviado suas tropas para a região fronteiriça com a Colômbia não representa um indicativo mais sério de conflito armado. Ele garante que a Venezuela encontra-se em processo de ?provocação? com o governo colombiano, com o objetivo de reforçar a soberania do líder venezuelano, Hugo Chávez.

?Chávez sofreu algumas derrotas políticas no ano passado e estava usando a ameaça de agressão externa como uma forma de alavancar esse processo. O que a ação da Colômbia fez não teve nada a ver com a presença das Farc no território venezuelano", avaliou Dias. "Esse episódio foi usado para montar um processo de escalada diplomática e atrair a Colômbia para um conflito.?

Na opinião de Dias, o governo brasileiro poderia exercer um possível movimento diplomático por meio de um processo de mediação. Ele lembra que o Brasil também está ?vulnerável? à presença de guerrilheiros em seu território.

?O Brasil já deu uma resposta agressiva quando os guerrilheiros estiveram com uma ação mais violenta em território brasileiro. Não fez como a Venezuela e a Colômbia, não tolerou a presença dos guerrilheiros no território. Tem poder regional para exercer um processo de mediação e oferecer o caminho para uma solução diplomática?, salientou.

Dias acredita que a negociação para a libertação dos reféns em poder das Farc não será afetada. Ele afirma, entretanto, que as guerrilhas estão perdendo sustentação política em escala mundial e que não há razão para manter esse tipo de movimento em países democráticos como a Colômbia.

?O que as Farc fazem com esses reféns é uma coisa completamente fora do que é normal no relacionamento entre forças políticas e a população, é um processo de chantagem absurdo e já estava perdendo legitimidade por conta da divulgação do caso Ingrid Betancourt [ex-senadora colombiana refém da guerrilha]?, declarou.
 

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