Diálogo emperra e facções se radicalizam em Honduras

A tensão e o impasse político aberto com o golpe do dia 28 em Honduras começam a dar lugar à impaciência e à radicalização entre os grupos liderados pelo presidente deposto, Manuel Zelaya, e o presidente de facto, Roberto Micheletti. No front diplomático, as negociações mediadas pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias, davam ontem mais sinais de fadiga. A nova proposta, anunciada por Arias ontem como sua última opção, pede a restituição de Zelaya em dois dias – prazo que se esgota amanhã -, além da formação de um governo de união até o final de seu mandato, em janeiro.

A delegação do governo de facto disse que enviaria a nova proposta de Arias ao Congresso e ao Judiciário. O chanceler Carlos López Contreras insistiu que o governo de facto não aceitará a volta de Zelaya, mas Micheletti declarou que esperará o retorno da delegação antes de se pronunciar. Zelaya, por sua vez, disse à rede Telesul que a proposta de Arias “praticamente fracassou”.

Ontem, partidários de Micheletti promoveram uma grande manifestação de apoio ao governo golpista em Tegucigalpa. Ao mesmo tempo, seguidores de Zelaya, sob a organização de entidades de esquerda, preparavam uma greve geral para hoje – no que seria o início das mobilizações para a “insurreição”, pedida pelo líder deposto para preparar o seu “retorno triunfal”.

A julgar pelo clima da manifestação pró-Micheletti de ontem, a possibilidade de um confronto entre as duas facções é cada vez maior. “Que (Zelaya) venha! Estamos prontos para defender a verdadeira democracia em Honduras”, disse ao Estado o estudante de engenharia Carlos Ordaz, de 23 anos.

Zelaya promete voltar a Honduras “a qualquer momento” a partir de hoje para retomar o poder. Sua primeira tentativa de retorno, no dia 5, num avião venezuelano, foi frustrada pelo Exército, que bloqueou a pista do aeroporto de Tegucigalpa para impedir a aterrissagem.