Dia de Reis

O Dia de Reis é uma festa fixa católica que comemora a visita ao Menino Jesus, em Belém, dos Três Reis Magos: Gaspar, Melchior e Baltazar. Em hebreu, esses nomes significavam o rei da luz (melichior), o branco (gathaspa) e o senhor dos tesouros (bithisarea). Além de representarem as três etnias conhecidas, eles representavam os reis de todo o mundo: Gaspar representava a África, assim como o rei da Índia; Melchior, o rei da Pérsia; e Baltazar, o rei da Arábia, numa referência à profecia contida no Salmo 72: "Todos os reis cairão diante dele". Eles levaram como presentes: ouro; incenso e mirra, que simbolizavam, respectivamente, a realeza, a divindade e a humanidade (o óleo da mirra era usado para embalsamar os mortos). Aos Magos devemos a tradição de dar presentes no Natal.

Muito anterior ao cristianismo, o Dia de Reis é oriundo da festa do Sol Invicto (Sol Invencível), comemorada pelos romanos e, mais tarde, absorvida pelos egípcios. No calendário gregoriano, a atual festa romana acontecia no dia 25 de dezembro e a egípcia no dia 6 de janeiro. No século III, o dia 25 de dezembro é instituído como data oficial do nascimento de Cristo e o dia 6 de janeiro, Dia de Reis, data do seu batismo.

A partir do século IV, celebraram-se simultaneamente, na data de 6 de janeiro e com o nome de Epifania, tanto a festividade do batismo como a do Natal. Neste mesmo século, se espalhou o costume de festejar o Natal no dia 25 de dezembro e a comemoração do batismo foi passando pouco a pouco para segundo plano, quando a adoração dos Magos começou a se tornar o objeto principal, acabando por ser depois o objeto exclusivo da festa de 6 de janeiro. Na liturgia oriental, ao contrário, a Epifania continuou sendo sobretudo a festa do batismo de Jesus.

No Brasil, a tradição de comemorar esta festa – a folia dos Reis – foi trazida pelos portugueses ainda na época do Brasil-colônia. No dia 6 de janeiro, grupos de fiéis saiam às ruas, cantando e representando pequenas peças teatrais, em geral dramáticas, em troca de comida e bebida.

Quem eram os Reis Magos?

Quem eram na realidade os Magos? De onde vieram? A resposta a essas duas questões poderia não só solucionar a data de sua chegada à mangedoura bem como lançar luz sobre a natureza da Estrela anunciadora.

Os magos eram originários de uma tribo meda na qual os homens mais importantes desempenhavam funções sacerdotais, na religião persa. Ora, a astrologia era uma das principais ocupações dos sacerdotes persas, a quem o povo atribuía forças e conhecimentos secretos devido às suas previsões astronômicas. Desse modo, a palavra "magos" passou a ser sinônimo de feiticeiro nas obras astronômicas gregas. Com este sentido, foi usada nos livros bíblicos (Atos, 8,9.11; 13,6,8; e Mateus, 2,1ss) para designar os sábios do Oriente.

Por outro lado, é muito difícil afirmar se os magos eram sacerdotes persas ou astrólogos babilônicos. Tanto uns como outros acreditavam na influência dos astros sobre os acontecimentos terrestres, assim como na sua ação anunciadora dos eventos benéficos e maléficos. Sabe-se pela Bíblia que eles moravam no Oriente, o que pode significar Arábia, Mesopotâmia, Babilônia e Pérsia. Aceitando essas hipóteses, e considerando a importância astrológica da conjunção tríplice de Saturno e Júpiter, somos levados a acreditar ter sido muito provável que esse fenômeno constituiu a chamada Estrela de Belém.

Por outro lado, analisando os prováveis caminhos percorridos pelos Magos, concluímos que, se partissem de qualquer desses pontos, chegariam a Jerusalém a tempo de assistir aos primeiros dias de Jesus.

É hábito comemorar a visita dos Reis Magos ao Menino Jesus em 6 de janeiro. Entretanto a escolha dessa data é uma convenção religiosa. Na realidade a visita deve ter ocorrido em outro dia e mês do ano que nasceu Jesus. No Oriente, até o século IV, o nascimento de Cristo foi celebrado em 6 de janeiro. Assim também o início do ano-novo foi até 1564 comemorado no dia de Natal. Em França, sob o reinado dos merovíngios, o ano começava em primeiro de março, dia de revistas das tropas; sob os carolíngios, começava no Natal; e sob os capetos, no dia da Páscoa, que variava entre 22 de março e 25 de abril.

Esses três acontecimentos: o nascimento de Cristo, o início do ano-novo e a chegada dos Reis Magos, pela sua natureza religiosa, parecem datas fixas de comemorações inquestionáveis. Jamais poderíamos supor que tais fatos histórico-religiosos houvessem ocorrido em outros dias.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é astrônomo, criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins. Escreveu mais de 75 livros, entre outros, "Anuário de Astronomia e Astronáutica 2006".

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Esforços para interpretação dos fenômenos celestes

Aqueles que procuram estudar as primeiras tentativas de conhecer os astros não podem menosprezar os esforços feitos pelos magos na interpretação dos fenômenos celestes. Uma das melhores fontes para conhecer as idéias astronômicas dos magos é a tradução francesa do Zend-Avesta publicada em Paris em 1771 em três volumes pelo escritor Anquetil du Perron.

Zoroastro foi considerado por alguns autores como um astrônomo célebre. Uma das orações do Avesta diz: "Anuncie, Zoroastro, que aqueles que amam as coisas do céu obterão uma excelente recompensa".

Pelas meditações do Avesta, que teria sido redigido por Zoroastro, pode-se ter uma idéia da astronomia dos magos. O nosso planeta – a Terra – estaria, segundo o Avesta, em repouso sobre a água. De acordo com os relatos de Plutarco, Zoroastro considerava a Terra como plana.

Os magos conheciam a desigualdade dos dias e das noites. Dividiam o ano de 365 dias e um quarto, deduzido pelos sacerdotes egípcios a partir do nascer helíaco de Sirius.

O Sol, que o Avesta cantava em sua ação, deveria ser conduzido por um carro com quatro cavalos; idéia essa muito análoga à do Febo-Apolo da mitologia greco-romana. Além do mais, o Sol entre os magos da Pérsia constituía um olho que vigiava a Terra, como nas concepções dos egípcios, chineses e gregos. Como no Egito, adoravam o Sol três vezes por dia; no nascer, no meio-dia e no ocaso. Segundo alguns autores, havia uma divergência entre os egípcios e os magos: esses últimos não adoravam no ocaso, mas à tarde, esquecendo o ocaso, como fenômeno a ser comemorado.

A Lua era também motivo de adoração, pois, segundo a Avesta, "com a Lua nova e cheia surgiam todas as produções". Para o imperador Juliano, "a Lua era a causa de todas as coisas". Segundo Zoroastro, a Lua guardava a semente do Touro, associado o crescente lunar a uma representação dos cornos desse animal. Aliás, Plutarco identificava as estátuas da deusa egípcia Ísis à Lua, que possuía cornos em sua cabeça.

Os magos adoravam também os planetas, que acreditavam ser emissores de calor. Mercúrio era designado como Tir; Vênus era Anahid; Marte, Behram; Júpiter, Anhouma; Saturno, Kevan.

Segundo Heródoto, os persas ofereciam seus sacrifícios ao Sol, à Lua, à Terra, ao fogo e ao vento, assim como a Celeste, ou seja, ao planeta Vênus.

A cosmologia zoroástrica é muito análoga à das religiões da época, com uma criação sucessiva da Terra, das árvores, dos animais, colocando no final a criação do homem.

Todas essas idéias da astronomia primitiva desenvolvidas pela figura misteriosa de Zoroastro se aproximam de determinadas concepções idênticas muito difundidas no vale do Nilo, na Pérsia, na Arábia, na China, e mesmo nas tribos que viveram na América Central. Parece que a estrutura do pensamento humano seguiu uma mesma seqüência evolutiva, fazendo com que a astrolatria tivesse sido um dos primeiros estágios da história da astronomia primitiva. (RRFM)

Magos exerciam funções sacerdotais

Os magos parecem ter sido uma tribo que exercia primordialmente funções sacerdotais. Para os gregos, eram considerados os sacerdotes dos iranianos e mais tarde, pelos romanos, como sacerdotes de Zaroastro. De todos os medas, os magos foram aqueles que mereceram uma especial atenção dos antigos gregos e judeus, que os conheciam como notáveis sacerdotes dedicados à adoração dos astros, cujo movimento aparente conheciam com grande precisão para as suas atividades religiosas. Eram, na realidade, astrólogos, intérpretes de sonhos e adivinhos. O vocábulo magia, de origem grega, significa inicialmente trabalho de magos.

Depois da ascensão de Zoroastro (Zaratustra), que viveu no século VII a.C., os magos se tornaram os sacerdotes da religião zoroástrica. Os três "sábios do Oriente" que levaram presentes ao Menino Jesus eram magos. Foi no século VI a.C. que a tradição mudou os magos em reis. Seu número foi fixado em três em virtude da natureza dos seus presentes. Segundo a tradição oriental, os magos que visitaram Jesus eram doze.

Os ensinamentos do zoroastrismo tornaram-se as diretrizes da civilização persa. Os poderosos governantes da Pérsia, Ciro e Dario, conseguiram difundir tal religião em todo o Império. No entanto, depois que Alexandre, o Grande, conquistou a Pérsia, no século IV a.C., o zoroastrismo começou a extinguir-se. Com o advento de Maomé, a religião zoroástrica desapareceu da Pérsia. Atualmente, os seus únicos seguidores são os persas da Índia e do Irã. A Bíblia do zoroastrismo é o Zend-Avesta ou simplesmente Avesta. (RRFM)

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