Cientistas pedem demissão após condenação por terremoto

Quatro membros da cúpula da Comissão de Grandes Riscos da Itália pediram demissão hoje em protesto contra a condenação de integrantes do órgão que não avisaram sobre o terremoto de L’Aquila, em 2009.

Na última segunda, sete funcionários foram condenados a seis anos de prisão por não cumprir os objetivos de seu trabalho ao não informar com antecedência sobre o abalo sísmico. O tremor causou 309 mortes e deixou a cidade destruída.

O presidente da comissão, Luciano Maiani, disse que renunciou por considerar que o órgão não pode funcionar “nessas condições difíceis”, em referência ao pedido da Promotoria de prever a ocorrência de terremotos.

“Estes são profissionais que falam com boa fé e não foram motivados por interesses pessoais. Eles sempre disseram que não era possível prever um terremoto”, disse, em referência aos funcionários condenados.

Além de Maiani, também pediram demissão o vice-presidente, Mauro Rosi, e o presidente emérito, Guiseppe Zamberletti.

Condenação

A reação acontece após seis membros da Comissão de Grandes Riscos da Itália serem condenados a seis anos de prisão por homicídio culposo (sem intenção de matar) por não terem previsto o terremoto de L’Aquila, em 2009.

Para o tribunal, os integrantes do órgão falharam em suas funções por não terem descoberto o abalo de magnitude 6,3 na escala Richter enquanto faziam uma vistoria em L’Aquila, seis dias antes do tremor.

Na ocasião da visita dos técnicos, a cidade sofria tremores de baixa intensidade, que preocuparam a população. Após a vistoria, o governo italiano autorizou os moradores a voltarem para suas casas. No sismo, a maioria dos moradores que estavam em casa morreu.

Protesto

Cientistas do mundo inteiro protestaram contra a decisão do tribunal, afirmando que a ciência não possui meios para prever terremotos.

A revista “Nature” qualificou o veredicto como perverso e chamou a sentença de ridícula. Em editorial, a publicação protestou contra a severidade da sentença e a criminalização dos cientistas “pela forma como suas opiniões são comunicadas”.

Antes do anúncio da decisão judicial, uma carta assinada por mais de 5.000 cientistas em apoio aos réus foi entregue ao presidente do país, Giorgio Napolitano.

Entre os cientistas, estão figuras renomadas na Itália, como o professor Enzo Boschi, ex-presidente do Instituto Nacional de Geofísica e Vulcanologia do país.

Na Itália, as condenações não são definitivas até que se julguem os recursos, o que torna improvável que os cientistas cumpram as sentenças imediatamente.

Voltar ao topo