CIA revela erros que provocaram escândalo nos anos 70

A Agência Central de Inteligência (a CIA, americana) divulgou nesta terça-feria (26) centenas de páginas de relatórios internos sobre irregularidades cometidas pela organização que provocaram um escândalo em meados da década de 1970. Os documentos detalham complôs para assassinar líderes estrangeiros, como o cubano Fidel Castro; para testar drogas que alteram o comportamento, como LSD, em inadvertidos cidadãos; grampear jornalistas americanos; espionar ativistas dos direitos civis e contrários à Guerra do Vietnã; devassar correspondência entre os EUA e a União Soviética e China; invadir residência de ex-funcionários da CIA e outros.

As 693 páginas, a maior parte relatos de memória de ativos agentes da CIA feitos em 1973, foram entregues na época a três diferentes painéis investigativos – a Comissão Rockefeller do presidente Gerald Ford, uma comissão da Câmara dos Representantes e outra do Senado. Os painéis levaram anos investigando e ampliando os documentos. E seus relatórios públicos em meados da década de 1970 cobriram dezenas de milhares de páginas. O escândalo manchou a reputação da comunidade de inteligência e levou à definição de novas regras para a CIA, para o FBI e para outras agências de espionagem, e a criação de novos comitês permanentes no Congresso para fiscalizá-las. Entre outras regras, passou a ser proibido para a CIA conspirar para matar líderes estrangeiros.

Os documentos também foram um dos resultados do escândalo Watergate. O então diretor da CIA James Schlesinger ficou irritado ao ler em jornais que a CIA havia dado cobertura aos dois ex-agentes da organização E. Howard Hunt e James McCord, que foram condenados pela invasão de Watergate, num caso que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon. Hunt trabalhava para uma secreta "unidade bombeiros hidráulicos" na Casa Branca de Nixon. A unidade tinha a tarefa original de investigar e pôr fim ao vazamento de informação secreta, mas acabou se engajando numa série de ações ilegais.

Em maio de 1973, Schlesinger ordenou que "todos oficiais seniores desta agência reportem a mim imediatamente sobre qualquer atividade em curso, ou que tenha sido realizada no passado, que possa ser interpretada como estando fora da carta legislativa desta agência". A lei que criou a CIA a impedia de conduzir espionagem dentro dos Estados Unidos. O resultado foram as 696 páginas de memorandos que chegaram depois que Schlesinger havia sido transferido para o Pentágono e sido substituído na direção da CIA por William Colby. O conteúdo dos relatórios foi entregue por Colby ao Departamento de Justiça. Dentro da CIA, Colby referia-se aos documentos como os "esqueletos". Mas outro nome rapidamente pegou: "jóias da família".

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