Mulheres sem-terra

A primeira experiência já está em curso. Na semana que passou, Geraldo Eugênio instalou o primeiro assentamento sob comando feminino em Itaquitinga, Zona da Mata de Pernambuco. À testa está Luíza Ferreira da Silva, conhecida pela liderança e organização na região. Há homens no assentamento, sim. Mas são as mulheres que receberão o título de posse e os créditos de instalação, cabendo também a elas o papel de interlocutoras com as autoridades do governo.

Os treze assentamentos do MST na área sob o comando de Luíza, segundo o coordenador do Incra, são melhores gerenciados que os da Zona da Mata do Sul, comandados, como aconteceu até aqui de norte a sul, por homens. “A aplicação dos recursos também é mais direta, não há desvio de função”, acrescenta Geraldo Eugênio, apostando no teste com que pretende comprovar a hipótese de que, nas mãos das mulheres, a reforma agrária pode ser um pouco diferente. Ele assegura que já está disposto a repetir a iniciativa onde as mulheres tiverem atuação destacada.

Não sabemos o que esse entendimento possa estar gerando no seio machista das lideranças do MST. Até aqui, pelo menos nas fotografias divulgadas, as mulheres têm atuado nas atividades de apoio, carregando crianças e coisas do gênero. Não se tem conhecimento do que elas pensam exatamente diante de situações de confronto, de violência, nem mesmo diante das denúncias de desvios de recursos ou durante os trabalhos de aliciamento de militantes. Uma delas, pelo menos, caiu fora e virou modelo, não sem antes denunciar o que se passa por dentro do movimento.

O mundo – embora os homens recalcitrantes – caminha rapidamente para a “feminização”. O papa não as quer em postos-chave na Igreja, mas assim é na Justiça, no jornalismo, até na administração de George W. Bush. Na política, há uma reserva legal e exatamente nesta campanha presidencial o assunto vem à tona com tanta intensidade que, pelo visto, quase todos os vices serão mulheres. Talvez para compensar a titularidade que falhou nas mãos de Roseana Sarney e seus recursos financeiros explícitos sem origem clara (diga-se de passagem, pelo menos conforme a versão oficial, por culpa de um homem, seu marido). Mulheres, que reinam soberanas em seus lares, estão na polícia, até no exército. Por qual motivo não no MST?

Há que se incentivar a experiência. Com elas no comando, entre outros deploráveis equívocos, talvez não aconteçam cenas como aquela que uma câmara indiscreta levou ao mundo: os sem-terra bebendo uísque e vinho na casa do presidente da República, em Córrego da Ponte. Afinal, mulheres costumam ser mais objetivas. E beber uísque, fumar charutos cubanos, ou realizar banquetes em propriedade alheia não constituem atividades-fim do MST.

Voltar ao topo