Mosquito e parasita da malária são diferentes dos seqüenciados

O parasita e o mosquito que prevalecem no Brasil para a transmissão da malária são de espécies diferentes das seqüenciadas pelos consórcios internacionais, mas isso não torna as pesquisas menos importantes para o combate da doença no País.

O Plasmodium falciparum está relacionado a apenas 20% dos casos brasileiros de malária, mas ainda assim é o responsável por quase todos os casos de morte e internações, segundo informações da Fundação Nacional de Saúde (Funasa).

Os outros 80% das infecções são causadas pelo Plasmodium vivax  bem menos agressivo. E quem carrega o parasita, em quase todos os casos, é o Anopheles darlingi, em vez do A. gambiae. O mosquito vilão da África não existe na região da Amazônia Legal, onde são registrados mais de 99% dos casos brasileiros de malária.

Nos anos 80, o número de mortes pela doença no País chegavam perto de mil por ano, mas nos últimos anos foram reduzidas a cerca de 200. Em 2001, foram 129.

?A Organização Mundial de Saúde estabeleceu, em 1999, uma meta de redução de 50% dos casos de dengue no mundo até 2010. Vamos atingir essa meta ainda neste ano?, disse à Agência Estado o coordenador do Plano de Intensificação das Ações de Controle da Malária, José Lázaro Ladislau.

As informações publicadas para o estudo do P. vivax e do A. darlingi, já que os organismos devem compartilhar muito da sua biologia básica.

?Podemos aplicar a genômica comparativa para identificar regiões no DNA que sejam de interesse para os vetores da malária na Amazônia?, explica o pesquisador Hernando del Portillo, da Universidade de São Paulo (USP), que há três anos participa de um projeto internacional para o seqüenciamento de genes de virulência do P. vivax. Ele também coordena um projeto temático sobre a malária na Amazônia, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

A Fapesp foi convidada para participar do projeto de seqüenciamento do Anopheles gambiae, por meio da rede Onsa, mas a parceria acabou não se concretizando. ?Os termos da nossa participação deveriam ser diferentes?, disse o diretor científico da fundação, José Fernando Perez.

Nos estudos, que serão oficialmente publicados amanhã, o Brasil está representado apenas por pesquisadores que atuam no exterior.

José Ribeiro, do Instituto Nacional de Alergia de Doenças Infecciosas (NIAID), contribuiu para os estudos de genoma e proteoma do A. gambiae. Enquanto Marcelo Jacobs-Lorena, da Case Western Reserve University, também nos EUA, é co-autor de um artigo sobre o potencial uso de mosquitos geneticamente modificados no controle da malária.

Os cientistas já desenvolveram várias técnicas de transformação genética em pelo menos três espécies de mosquitos da malária, mas estão longe de introduzir essas características em populações selvagens dos mosquito.

No Brasil, a pesquisadora Margareth de Lara Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, desenvolveu uma linhagem de mosquitos incapazes de transmitir uma forma da malária que ataca galinhas. Os insetos são geneticamente modificados para produzir uma enzima especial, que não mata o parasita, mas impede que ele passe para a glândula salivar do mosquito.

?Conseqüentemente, bloqueamos a transmissão da doença?, explica Margareth, que agora trabalha com os agentes da doença no homem.

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