Morales assumirá amanhã presidência da Bolívia

Convertido no ícone da maioria indígena o ex-líder cocaleiro Evo Morales assumirá amanhã (22) a presidência da Bolívia numa cerimônia sem precedente em La Paz.

Autoridades de mais de uma centena de países, dirigentes de movimentos sociais dos mais distintos pontos do planeta estão na principal cidade boliviana para a posse de Morales, que venceu no primeiro turno a eleição de 18 de dezembro.

Ex-pastor de lhamas que despontou no cenário político pela intransigente defesa dos interesses dos plantadores de coca da região do Chapare (centro do país), Morales é primeiro indígena eleito presidente.

Sua ascensão, baseada num discurso esquerdista e nacionalista, chamou a atenção de personalidades como o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, que o recebeu na África do Sul. Além do país africano, o presidente eleito visitou Cuba, Espanha França, Argentina, Brasil e China – sempre recebido com honras de chefe de Estado e vestindo a sua invariável chompa de alpaca. Na festa de amanhã, espera-se que mantenha o figurino sindicalista-indígena.

Na cerimônia estarão presentes entre outras autoridades o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, o herdeiro do trono espanhol, Felipe de Bourbon, e quase todos os presidentes dos países do continente – incluindo o cubano, Fidel Castro.

Também estará em La Paz o presidente chileno em fim de mandato, Ricardo Lagos. Chile e Bolívia romperam relações diplomáticas em 1978, por causa da reivindicação boliviana de uma saída para o mar – perdida para os chilenos na Guerra do Pacífico, no século 19.

Morales assume a presidência com uma agenda ambiciosa. Sua principal promessa de campanha foi a de levar adiante o processo de nacionalização do gás e petróleo bolivianos – tema que interessa particularmente ao Brasil. A estatal Petrobras investiu US$ 1,5 bilhão na Bolívia nos últimos nove anos e é a maior multinacional que atua no país. Morales, porém, se comprometeu a não expropriar nem confiscar bens de empresas estrangeiras.

A questão da coca boliviana preocupa os Estados Unidos, que temem um aumento da área de cultivo sob a presidência de Morales. Legalmente, os cocaleiros (plantadores de coca) bolivianos podem cultivar 12 mil hectares, mas o presidente eleito já se manifestou em favor da ampliação desse limite – sob o argumento de que os agricultores não podem ser punidos pela disseminação da cocaína no mundo ou pelo consumo da droga nos Estados Unidos.

Outra preocupação da Casa Branca é a proximidade de Morales com Fidel e com seu colega venezuelano, Hugo Chávez – as duas principais pedras no sapato de Washington no continente. De todo modo, Morales amenizou suas posições antiamericanas nos últimos meses e hoje diz querer estabelecer "um diálogo construtivo" com os Estados Unidos.

Em julho, o novo presidente deverá passar por seu primeiro teste político, com o referendo sobre o grau de autonomia dos departamentos (províncias), uma das questões mais polêmicas do país.

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