Monumento à desídia

Exemplo perfeito do modelo brasileiro de zelar pelo patrimônio construído com dinheiro drenado da renda dos contribuintes é a indefinição do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), quanto ao que fazer com a ponte sobre a represa do Capivari seis meses depois do desabamento.

O trânsito de veículos entre Curitiba e São Paulo foi desviado para a ponte vizinha, cuja estrutura, segundo o DNIT, ?está sob controle?, mas o prazo estipulado para a reparação total do desabamento, que causou a morte de um motorista de caminhão, se esgotou sem que nenhuma providência concreta tenha sido tomada.

A cabeceira tombada lá permanece como um monumento à desídia administrativa e ao desrespeito com os usuários que pagam impostos. Logo eles estarão desembolsando mais dinheiro ao trafegarem pela BR-116, pois o trecho consta do pacote de rodovias que a União pretende repassar à iniciativa privada em outubro.

Do jeito que a coisa vai, o trajeto São Paulo-Curitiba ficará fora do edital que o governo tenciona lançar, tendo em vista a desabusada intenção que seria cobrar pelo uso de uma rodovia incompleta.

A dúvida dos técnicos do DNIT, citada na reportagem de Sâmar Razzak, em O Estado do Paraná de ontem, reside na movimentação do maciço sobre o qual a ponte foi construída e se não há risco de desabamento dos pilares restantes. A estranheza é cabível porque seis meses decorridos do acidente, a capacidade técnica da engenharia rodoviária a serviço do Ministério dos Transportes ainda não pôde anunciar a solução definitiva para a questão.

O DNIT estaria deliberando, segundo apurou Razzak, sobre o início de obras emergenciais numa ponte caída desde o mês de janeiro, cujo projeto de reconstrução ainda está sendo analisado em Brasília. Ou seja, a burocracia não conseguiu concluir se deve ou não realizar as obras de estabilização da parte ainda existente, mesmo estimando que se os pilares do terceiro bloco desabarem pela movimentação natural do aterro, grosso modo, o resto da estrutura vai junto.

Configurada a emergência tardia, as obras de reconstrução da ponte dispensariam a necessidade de licitação, coisa mais espantosa para os meirinhos da administração federal que uma chuva de canivetes.

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