Mensalão, sim ou não?

A crise política nacional, iniciada com um flagrante aplicado a um alto funcionário da Empresa de Correios e Telégrafos, que revelou que o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, seria o mandante dos achaques, que foram até filmados, acabou por fazer com que o ousado deputado carioca usasse um verdadeiro ventilador. Ele espalhou dejetos para todos os lados e atingiu principalmente o PT, os partidos aliados do governo e, embora inocentasse desde o início o presidente Lula, que seria cego, surdo e mudo ao que ao seu redor ocorria, nele acabou respingando um bocado de lama. Nele e no governo.

Enquanto era perseguido e depois cassado, Jefferson foi aprofundando a crise e nela ingressaram não um, mas diversos políticos e funcionários de expressão. Inventou-se a palavra mensalão para designar uma paga mensal, da ordem de R$ 30.000,00, a cada deputado cooptado pelas originalmente frágeis forças de apoio ao governo. O governo do pequeno PT e do minúsculo PL acabou conseguindo uma grande coalizão de apoio, heterodoxa, impertinentemente contraditória.

O mensalão seria uma justificativa para conseguir esse milagre de crescimento e coesão, desde que a ética fosse abandonada. E isso não seria de se admirar que ocorresse. Agora, quando outros deputados acusados renunciam e mais alguns poderão ser cassados, há mais desmentidos que afirmações a respeito da existência do mensalão. Talvez não se prove esse pagamento mensal, mas já ficou provado que megapropinas foram pagas ao PT e aos partidos aliados, não de trinta dinheiros, mas de muito mais, para sustentar por fora do pano, ao arrepio da legislação eleitoral e sem a devida contabilização, as campanhas eleitorais. Inclusive a de Lula.

Muitos já confessaram terem sido intermediários dessa torrente de dinheiro. Outros não negaram que receberam, embora em geral digam que o numerário foi para o PT e, em alguns casos, deste para os partidos que a ele se aliaram. Negar o dinheiro do caixa 2 nem Lula faz. Ele admite, embora se exima de responsabilidades, dizendo que só a tem na apuração dos fatos.

A sociedade, os meios de comunicação e gente envolvida na briga, que já ameaçou até um ?round de impeachment?, fazem hoje uma pergunta constante: de onde veio tanto dinheiro? Não se trata de um segredo guardado a quatro chaves, mas de revelações múltiplas e escancaradas, algumas sustentadas em fortes indícios e outras ainda por melhor comprovar. O dinheiro veio de onde quer que pudesse ser arrancado, como extorsão, doações ilegais ou seja lá como se possa fazer dinheiro, sem vergonha de ser feliz.

O dinheiro, segundo dizem membros das CPIs, veio de Cuba, dos fundos de pensões, inclusive das estatais, de empresas concessionárias de serviços públicos, de fornecedores, de operações feitas por prefeituras. Seu destino era quase que invariavelmente o PT, via Delúbio Soares, e dali, para comprar aliados e alianças partidárias. Nem tudo está provado e precisa sê-lo. Mas não há dúvida que no Brasil construiu-se uma imensa teia de corrupção, caixa 2, negócios escusos, tudo para fortalecer o pequeno PT e o frágil governo eleito, pois só com os votos populares, que teve em profusão, não se sustentaria no poder.

O que já está provado é que não basta ter votos. É preciso ter também devotos, e estes muitas vezes só se consegue pagando na boca do caixa. O dinheiro manda mais que a vontade do povo.

Voltar ao topo