Mateus, só os teus?

Enxugar a máquina administrativa, sempre de tamanho maior que o necessário, esta seria uma decisão acertada de todo governante parcimonioso e preocupado com o dinheiro do povo. Mas o atual governo dos brasileiros disse e repetiu que está preocupado com outros quinhentos. Quer gerar empregos. Como ninguém chega aos milhões se não passar pelos tostões, eis os primeiros 2.793: todos cargos de confiança em algum lugar importante no governo federal. Serve?

A caneta do ministro José Dirceu, o autodeclarado “in-com-pe-ten-te” da Casa Civil que controla a administração inteira, está de novo cheia. É ele, um ex-presidente do PT, quem vai comandar o espetáculo do preenchimento dos cargos. E que ninguém diga que é coisa feita por baixo dos panos. A proposta, contida em medida provisória (urgente e relevante?), foi aprovada pelo Congresso Nacional – na Câmara e no Senado – com pouca discussão. Muito poucos parlamentares, como o senador Tasso Jereissati, criticaram “a criação de cargos mais estapafúrdia já feita” na República.

Um imenso “trem da alegria”, já condenado também pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e talvez por isso mesmo defendido pessoalmente pelo presidente Lula. O que querem?, perguntou este último, dia desses. Querem que o governo atenda mal as pessoas para, depois, criticar esse mesmo governo por estar maltratando o povo brasileiro?

Assim, em nome do bom atendimento por todos reclamado, contrate-se. E sem fazer concurso público. Mande-se o erário público pagar.

A lenda conta que um falecido deputado paranaense dizia-se sempre contra concursos públicos porque, segundo ele, geralmente eram aprovados apenas comunistas e subversivos. De uns e de outros não se fala mais, caiu de moda. Ex-subversivos encontram-se agora até no governo. Mas subservientes, sim. Convém que todos os nomeados, mesmo integrantes já dos quadros do funcionalismo, sejam militantes (como na antiga Rússia?) de carteirinha, com fidelidade partidária comprovada. E que deduzam a contribuição ao partido já na folha de pagamento, vo-lun-ta-ria-men-te. Afinal, quem ganha emprego de mão beijada, aqui ou na China, é sempre grato ao generoso patrão.

Vão usar dinheiro do contribuinte para engordar as finanças do PT, disse dias atrás o senador pefelista José Jorge. Teve sua frase reproduzida com destaque num editorial do respeitado jornal O Estado de S. Paulo. O coordenador-geral do Pensamento Nacional das Bases Empresariais, Mário Ernesto Humberg, acha que mais imoral que o “trem da alegria” é essa possibilidade de o governo autorizar o débito, nas folhas de pagamento dos órgãos públicos, das contribuições que os filiados do PT repassam mensalmente ao partido. Em alguns casos, chega perto dos 20%. Confundem governo do Brasil com administração do PT.

Como diz Humberg, num país que já detém um recorde negativo de livre nomeação, isso é, no mínimo, imoral. Com efeito, as contratações são ainda mais revoltantes na atual conjuntura, quando os níveis de desemprego batem recordes sucessivos e quando a equipe econômica do governo insiste em medidas de austeridade que descontentam até os integrantes do próprio governo. “O trem da alegria causa indignação por ter sido de iniciativa do mesmo governo que prega austeridade e submete o País a um corte de investimentos públicos sem precedentes”, insistiu.

Por mais que o governo negue, “não há dúvida de que todos os funcionários a ser contratados ou comissionados acabarão sendo simpatizantes dos partidos da base de sustentação do governo”, sentencia Humberg. E nós fazemos coro: por que, Mateus, só os teus?

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