Mar de espinhos

O futuro governo não será um mar de rosas. Seja ele comandado por Lula, Ciro, Serra ou Garotinho, muitas serão as dificuldades. Não nos referimos apenas àquelas que dificultam fazer deste País uma democracia justa, mas também pedras no caminho que o governo Fernando Henrique Cardoso tentou remover, mas esbarrou em empecilhos muitos, inclusive no Congresso Nacional. As dificuldades do que será o mar de espinhos do futuro presidente serão menores porque aconteceu o acordo com o Fundo Monetário Internacional, com o aporte de US$ 30 bilhões, a maior parte à disposição do próximo governo. Mesmo aqueles que aprovaram com relutância o acordo, dele se aproveitarão, pois o ataque especulativo hoje sofrido pelo Brasil criou dificuldades financeiras que poderiam (e, oxalá, não mais possam!) levar-nos à indesejável situação de inadimplência.

Porque o FMI pede e ainda porque a tempestade no mercado melhor se acalmará e a transição se fará de forma mais tranqüila, buscou o presidente FHC um encontro com os presidenciáveis viáveis. O objetivo é explicar o acordo com o FMI e a real situação do País, para que mais clara e definitivamente se comprometam com o ajuste fiscal, o superávit primário adequado, a política de câmbio ora adotada e o respeito aos contratos firmados. Esse encontro ajudará a mostrar ao mundo que o Brasil é um país sério. E que o tomam a sério todos os candidatos à Presidência, sendo, portanto, merecedor da confiança dos investidores e dos analistas de riscos que hoje nos colocam na berlinda.

Na França, quando lá assumiu o governo de esquerda de François Mitterrand, a plataforma do líder socialista e as esperanças dos que o sufragaram era o rompimento total com o modelo capitalista e a adoção de sólidas políticas sociais. Assumindo, Mitterrand passou de pedra a vidraça e, ao enfrentar os problemas no dia a dia, foi obrigado a reconhecer que, na prática, a teoria é outra. Realizou o que pôde do seu ideário. Por certo, Lula, Ciro ou Serra aqui realizarão, também, o que puderem, mas se sentirão apertados dentro de um condicionamento que fará abandonarem muitas promessas de campanha e sonhos ideológicos.

O ministro do Planejamento, Guilherme Dias, vaticinou que o próximo presidente do Brasil terá de tomar medidas impopulares. Terá de insistir em medidas que o atual governo não conseguiu aprovar no Congresso, como a contribuição previdenciária dos funcionários públicos inativos e a instituição da previdência complementar dos futuros servidores. Na opinião dele, do contrário será impossível conter o crescimento das despesas de pessoal, que pularam de R$ 35,7 bilhões em 1995, para R$ 73 bilhões neste ano. Dias sentencia: ©Não há espaço para ilusionismoª. Na prática, essas medidas que terão de ser encaradas pelo futuro presidente acabam com a aposentadoria integral dos funcionários públicos.

Lula, falando sobre este que é um dos muitos problemas que o futuro presidente terá de enfrentar, pregou sistemas iguais para trabalhadores da iniciativa privada e funcionários públicos, com respeito aos direitos adquiridos. Ciro prega um novo modelo, só para os novos servidores, com a aplicação das contribuições previdenciárias de forma rentável, montando um fundo para pagamento dos benefícios. E, para os já clientes da previdência, a continuidade do sistema atual. Serra provavelmente abraça a política tentada por FHC de buscar a contribuição dos inativos.

Como vimos, o futuro presidente não nadará num mar de rosas.

Voltar ao topo