Lula impediu crítica pública de Rodrigues a Palocci

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva segurou uma explosão pública de insatisfação do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, após a notícia do foco de febre aftosa em Mato Grosso do Sul. Segundo fontes do governo, Rodrigues tinha a firme intenção de criticar publicamente a área econômica do governo pela falta de recursos para o ministério. Também queria atacar os pecuaristas da região afetada porque estes teriam, algum tempo antes do ressurgimento do foco, se recusado a fazer um reforço de vacina para proteger o gado. O presidente, porém, pediu que ele não fizesse essas críticas em público.

Já há algum tempo Rodrigues vinha demonstrando insatisfação com a área econômica, comandada pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, segundo relatos de interlocutores. Na semana passada, ele fez duras críticas às políticas de juros altos e câmbio sobrevalorizado, que têm prejudicado o setor agrícola.

A crise da aftosa acentuou a irritação de Rodrigues, e em Brasília chegaram a circular rumores de que ele pediria demissão. De acordo com as fontes, o ministro vinha dizendo em conversas reservadas que não se surpreenderia se aparecessem casos de aftosa diante da falta de dinheiro para o ministério fazer a vigilância dos rebanhos.

No outro lado da Esplanada dos Ministérios, Palocci, que foi posto na linha de tiro quando o caso estourou, preparou sua defesa dentro do governo. Tentando se livrar da responsabilidade ele apresentou ao presidente Lula dados mostrando que a Fazenda teria liberado R$ 50 milhões para a Agricultura, mas o ministério só teria gasto cerca de R$ 4 milhões na vigilância sanitária. Isso indicaria que o problema seria de gestão, e não de falta de dinheiro.

Apesar de pedir a Rodrigues para evitar críticas públicas aos pecuaristas de MS, segundo fontes do governo o presidente quer que os pecuaristas que não obedecerem rigorosamente às campanhas de vacinação sejam punidos, por exemplo, com interrupção de acesso a crédito público e outras sanções. Preocupado com as repercussões para as exportações brasileiras e especialmente interessado no mercado russo, que suspendeu a compra de carnes da região, o presidente Lula deve conversar ainda esta semana pessoalmente com o presidente daquele país, Vladimir Putin, sobre o assunto.

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