Livro de O´Neil sobre Bush causa reviravolta no cenário eleitoral

Paul O’Neill, ex-secretário do Tesouro do governo de George W. Bush, agitou o cenário a dez meses das eleições presidenciais com um livro que lança dúvidas sobre o presidente, que disputará a reeleição. “O presidente é como um cego em uma sala cheia de surdos. Não há um diálogo visível dentro da equipe de governo”, considerou O’Neill no livro “The Price of Loyalty” (“O preço da lealdade”), escrito pelo ex-jornalista do “Wall Street Journal” Ron Suskind.

O’Neill, destituído da secretaria do Tesouro em dezembro de 2002, entregou mais de 10.000 documentos ao autor do livro, nos quais se baseou para descrever a administração Bush como controlada nos bastidores pelo vice-presidente Dick Cheney, alegando que o presidente é um ignorante na maioria dos assuntos. Embora esta afirmação não seja nova, está sendo dita pela primeira vez por alguém que veio do governo.

No livro, O’Neill não vacilou em questionar os dois pilares do mandato de Bush: a guerra contra o Iraque e a redução de impostos. De acordo com o ex-secretário do Tesouro, a decisão de derrocar Saddam Hussein já estava tomada mesmo antes dos atentados do 11 de Setembro de 2001.

“Vamos ver, Condi, sobre o que vamos falar hoje, o que temos na agenda?”, pergunta Bush, ao se dirigir a sua conselheira de Segurança Nacional, Condoleezza Rice, durante uma reunião do Conselho Nacional de Segurança em janeiro de 2001, dez dias depois de assumir. “De como o Iraque desestabiliza toda a região, senhor presidente”, responde ela.

Isso anula a argumentação posterior do governo americano de que a guerra contra o país árabe se justificava pelo perigo de que Saddam Hussein se aliasse aos terroristas após os atentados do 11 de Setembro, que deixaram cerca de 3.000 mortos em Nova York e Washington.

O’Neill afirma que, durante os dois anos que passou no Tesouro, nunca viu provas concludentes da presença de armas de destruição no Iraque, e que a Agência Central de Inteligência (CIA) não sabia muito sobre o assunto.

Pergunta-se se o governo não “se meteu na toca do lobo ao enviar 100.000 soldados em meio a 24 milhões de iraquianos e de um mundo árabe com um bilhão de muçulmanos”. “Acreditem: não mediram as conseqüências”, disse O’Neill ao autor do livro.

Em relação ao corte dos impostos, O’Neill foi ainda mais crítico.Ao descrever uma reunião de gabinete de novembro de 2002, onde se discutiu o novo pacote de reduções de impostos a apresentar ao Congresso (que foi aprovado em junho de 2003 pela metade da cifra estipulada pela Casa Branca), revela um Bush completamente ultrapassado no aspecto técnico do tema.

Segundo O’Neill, suas advertências sobre o impacto do pacote no orçamento foram ignoradas e o assessor político do presidente, Karl Rove, terminou a discussão com um argumento simples: “Apegue-se aos princípios”.

O déficit americano pode chegar a um recorde de 500 bilhões de dólares em 2004. Quando Bush chegou à Casa Branca, havia um excedente orçamentário nos cofres públicos. As revelações de O’Neill são uma boa surpresa para a oposição democrata na campanha pelas eleições presidenciais de 2 de novembro próximo.

Consultado sobre as eventuais conseqüências de suas revelações em sua carreira, o ex-secretário do Tesouro resumiu: “Eu já sou velho e sou rico, e não há nada que possam fazer para me prejudicar”.

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