Ladrões de vidas

A Polícia Federal tem desenvolvido um grande trabalho no combate à corrupção, sendo suas operações denominadas por nomes criativos. Todavia, a denominação “operação vampiro”, assim como o termo “máfia do sangue”, usado na imprensa, vem causando um efeito adverso, pois dá ao público a impressão de que o sangue doado está sendo usado por essa rede de corrupção, sendo que, na verdade, esse grupo de bandidos do colarinho branco (ou vermelho?) faz falcatruas com derivados do sangue, que são importados, não envolvendo, de maneira nenhuma, aquele que é doado aqui dentro do País.

Os criminosos que perpetraram esse crime de corrupção, desta vez, superaram todos os outros que os antecederam, ou aqueles que, hoje, com eles competem em outras áreas. Conseguiram, assim, cometer um crime de lesa-humanidade, uma vez que a doação caiu absurdos 40%! Um hospital desta capital está sem uma única bolsa de plaquetas.

Sou doador de sangue e plaquetas e digo a todos que também o são, que continuem doando, e a quem nunca doou, que tente fazê-lo. Todos podem precisar um dia, seja em decorrência de um acidente, de uma cirurgia, uma enfermidade qualquer. Já as plaquetas, destinam-se, entre outros, a portadores de leucemia. Elas fazem a coagulação do sangue, e tais pacientes têm séria deficiência delas. Destaco aqui um dado importantíssimo: para se fazer uma única bolsa de plaquetas, são necessárias oito de sangue, ao passo que a doação direta deste componente sanguíneo, através do sistema chamado aférese, necessita de apenas um doador, diminuindo o risco de contaminação do receptor.

É muito pouco divulgada a doação de plaquetas, fala-se, sempre, apenas em sangue. Basta que se visite um hospital para se constatar a extrema importância de se as doar. Pode-se doar sangue a cada três meses, e plaquetas, mensalmente. O procedimento é simples e seguro.

Não sou médico, mas sou doador desde 1998 e me sinto gratificado a cada vez que vou ao hospital e faço a minha parte. Com ou sem vampiros, com ou sem máfia, manterei minha fé nos bons princípios daqueles que curam, médicos, enfermeiros e outros, e continuarei doando enquanto tiver idade para fazê-lo (por lei, até 65 anos).

Por fim, lembrando aqui que uma renomada colunista ressaltou, em recente artigo, que o “Brasil é uma peneira, a peneira da corrupção, por entre cujos furos esvai-se o dinheiro público, e que controles deveriam ser adotados para minorar este mal”, desejo completar a idéia invocando o princípio de custo-benefício. Posto que a maioria dos criminosos age calculando a possibilidade de ser preso, e ainda mais, a probabilidade, muito menor, de permanecer encarcerado, uma pena extremamente severa deveria ser proposta.

Como o crime de corrupção não é perpetrado por necessidade, mas por ganância, por pessoas empregadas, pode-se descartar, assim, o sempre utilizado argumento de que as maiores causas do crime são a pobreza, a falta de escolaridade e a oportunidade, a distribuição de renda, o desemprego, etc.

Assim, uma pena extremamente dura, como a prisão perpétua para esses casos, talvez não encontrasse grandes opositores entre os defensores dos direitos humanos, nem de outros setores da sociedade.

Sendo o desvio de recursos públicos prática antiga e corrente, tantas vezes compensadora para seus autores, a dura coerção, aliada ao excelente trabalho da Polícia Federal, poderiam minorar substancialmente esse mal. A PF se veria cada vez mais encorajada, vendo que os malfeitores por ela desmascarados permaneceriam presos pelo resto da vida.

Por fim, peço aos leitores que já eram doadores, que voltem aos bancos de sangue; aos que nunca doaram, que pensem em passar a fazê-lo.

Luiz M

. Leitão da Cunha é administrador e consultor de investimentos. E-mail: lleitaodacunha@aol.com

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