Grupo Boa Companhia apresenta “Primus” no Teatro da Caixa

Baseado no conto "Comunicado para uma Academia", de Franz Kafka, datado de 1917, "Primus" conta a história de um macaco que, para garantir seu lugar ao sol, aprendeu a ser homem e tornou-se um pop-star do teatro de variedades. Os atores, ora feras amestradas, ora amestradores, cantam, tocam e sapateiam. Afinal, todos precisamos de um lugar ao sol. Enquanto ainda há sol.

A encenação de "Primus" inscreve-se no que tem sido chamado de teatro físico, uma vez que a aproximação do conto parte de uma perspectiva fortemente centrada no trabalho corporal. No entanto o grupo lança mão também de recursos visuais de projeção de imagem (slides), do canto e da percussão ao vivo.

A base gestual tem como ponto de partida o estudo das estereotipias de primatas em cativeiro, através de observações no Zoológico de São Paulo. O trabalho vocal parte da linguagem não articulada, caminhando para a palavra, as canções do music-hall até a alta codificação do canto lírico.

As imagens (slides) que compõem parte do cenário procuram captar as dissonâncias entre a harmonia do mundo natural versus a desarmonia do mundo civilizado. A percussão busca nos ritmos primitivos africanos e no trabalho de livre improvisação, a construção de climas sonoros que ora conduzem a cena, ora oferecem apenas uma sustentação rítmica à ela.

De acordo com a diretora Verônica Fabrini, "buscou-se no diálogo entre essas três linguagens que tecem a estrutura narrativa do espetáculo, transpor para a cena os temas que consideramos fundamentais no conto de Kafka: os limites entre natureza e cultura, o animal e o humano, a tensão entre liberdade e a necessidade", explica ela.

Cenário

O cenário de "Primus" é sintético, reduzido a símbolos essenciais que, no entanto, oferecem grande versatilidade: quatro caixas de madeira que servem ora como púlpito, típico para conferências, ora como jaula. As mesmas caixas, empilhadas em três, também são usadas como podium e como quatro pequenos "palcos" sobre o palco. Ao fundo, uma tela ou rotunda branca, serve de espaço para a projeção de slides (cromos com fotografias jornalísticas de guerras, pobreza e desordem social, mescladas com fotografias de animais, índios e experiências científicas). A tela ou rotunda ajudam a construir o clima de um "comunicado para uma academia" de cientistas. 

O único objeto cênico utilizado pelos atores é um bastão de madeira rústico (quatro bastões), que por sua versatilidade prática e simbólica é utilizado como arma, como grades da jaula (há um encaixe nas caixas de madeira para os bastões), como cajado, etc.

A Boa Companhia

A Boa Companhia é formada por atores egressos do curso de Artes Cênicas da UNICAMP, atuando desde 1992, tendo como proposta a pesquisa da linguagem cênica a partir do trabalho do ator. São profissionais da área teatral dispostos não só a apresentar suas montagens teatrais e performances, como também trabalhar junto a empresas, escolas e outras instituições na área educacional (cursos e oficinas de montagens) e de entretenimento. Com este intuito, vem norteando a sua atuação através da pesquisa, intercâmbio e a férrea vontade de expandir os horizontes através da arte. Exibe um currículo eclético, com montagens que vão de Shakespeare a Qorpo Santo, passando por Nelson Rodrigues, Samuel Beckett além de adaptações de textos literários de autores como Guimarães Rosa e Franz Kafka.

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