Governo muda de tática e tenta reverter desgaste na CPI dos Bingos

O governo decidiu tentar reverter o desgaste que vem sofrendo ao longo dos últimos oito meses com a CPI dos Bingos. Senadores do PFL e do PSDB estão convictos de que o Palácio do Planalto resolveu agir para ganhar maioria de votos na comissão de inquérito, batizada de CPI do Fim do Mundo pelo governo. A estratégia dos governistas seria substituir o senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que é vice-presidente da CPI dos Bingos e, dessa forma, evitar a aprovação novamente da quebra do sigilo bancário do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto. Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Okamotto pagou uma dívida de R$ 29,4 mil do presidente com o PT.

Além da quebra do sigilo de Okamotto, que também foi tesoureiro de campanhas do PT, o governo também quer impedir a convocação de Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, e de Daniel Goldberg, secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça. Ambos são protagonistas do episódio de violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa.

"Sinto claramente que o governo está mobilizado para inviabilizar a CPI dos Bingos", afirmou ontem o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN). "Na CPI dos Bingos é muito difícil qualquer um dos lados ter maioria. É bem verdade que nós só temos perdido lá, mas não sei de nada dessa história de substituir o senador Mozarildo", disse o senador Tião Viana (PT-AC), que é articulador do governo na CPI dos Bingos.

Líder do PTB no Senado, que tem uma bancada de apenas quatro senadores, Mozarildo Cavalcanti só poderia ser substituído na CPI dos Bingos caso concordasse. Outro caminho, seria Mozarildo perder a liderança do partido e o novo líder designar um senador do partido para integrar as CPI dos Bingos. Ambas as hipóteses são, no entanto, consideradas remotas.

Para o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio Neto (AM), a cúpula da CPI dos Correios tem de negociar com os governistas o fim do trabalho da Comissão em troca da investigação do empréstimo de R$ 29,4 mil pagos por Okamotto para o presidente Lula. "A CPI dos Bingos pode ser encurtada e terminar no fim de maio desde que sejam investigados fatos como o de Okamotto. Se isso não for aceito, aí a CPI tem de ir até o fim de junho", afirmou Virgílio.

A maior preocupação do governo é precisamente com a quebra do sigilo bancário de Okamotto. Ele afirmou que pagou a dívida de Lula com recursos próprios de suas contas bancárias, mas há especulações de que o dinheiro teria vindo do esquema de caixa dois operado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza. Isso vincularia diretamente o presidente da República ao uso de caixa dois. Okamotto já recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a quebra de seu sigilo bancário, que já foi aprovada duas vezes pela CPI dos Bingos.

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