Governo impede votação de 70 requerimentos na CPI

Brasília (AE) – O governo impediu hoje (14) que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios votasse mais de 70 requerimentos que previam, entre outros, as quebras de sigilos bancário, fiscal e telefônico do ex-ministro José Dirceu e de três ex-dirigentes do PT (José Genoino, Delúbio Soares e Sílvio Pereira), além da convocação do secretário de Comunicação, Luiz Gushiken. A oposição saiu derrotada e teve de se conformar com as autorizações formais enviadas à CPI por Dirceu e os três petistas permitindo a quebra de seus sigilos. A direção do PT também entregou autorização para que a Comissão faça uma devassa nas contas do partido.

"Quer-se apenas conquistar manchetes de jornal. É um contrasenso votar esses requerimentos de quebra de sigilo, uma vez que os interessados já autorizaram essa quebra. A tática da oposição é levar a CPI para um embate eleitoral", argumentou o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). "Não queremos artimanhas, armações e artifícios usados pela base aliada para que os seus parlamentares não tenham de passar pelo constrangimento de votar contra a quebra desses sigilos", disse o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). "É a primeira vez que os investigados dão autorização para fazer a investigação", observou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "Essas autorizações não têm validade jurídica nenhuma; são apenas uma demonstração de boa vontade", completou o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ).

Os ânimos na Comissão ficaram exaltados e o senador Sibá Machado (PT-AC) e o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) acabaram protagonizando um bate-boca e um empurra-empurra no final da reunião da CPI dos Correios. O petebista alegou que os documentos enviados pelos petistas não tinham validade jurídica e, por isso, era preciso fazer a votação das quebras de sigilo. Sibá, que foi quem obteve os documentos junto aos petistas, ficou irritado. "Esse documento não tem validade nenhuma", berrou Faria de Sá. "Não sou candidato a palhaço. Não aceito isso. Está me chamando de moleque", reagiu o petista. No auge da discussão, Sibá e Faria de Sá ficaram batendo barriga com barriga. O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), decidiu então encerrar a reunião para evitar que os dois acabassem trocando sopapos.

Depois de se reunirem reservadamente por quase três horas durante a manhã de hoje, os integrantes da CPI aprovaram por acordo 11 requerimentos com a quebra de sigilo de empresas como a Skymaster Airlines e envolvidos em supostas irregularidades nos Correios e a permissão para que a Comissão faça uma devassa nas contas de todos os partidos políticos junto ao Banco do Brasil, Banco Rural e Banco de Minas Gerais (BMG). Ao fim dessas votações, os oposicionistas resolveram, então, tentar aprovar a preferência para que fossem votados mais de 70 requerimentos em que não havia consenso, como as quebras de sigilo dos petistas e a convocação de Gushiken e José Dirceu. A oposição saiu derrotada: foram 15 votos contra a preferência para votar os requerimentos e 10 a favor.

"Se o José Dirceu é tão importante, porque não ouvimos uma série de outras pessoas antes. Não é melhor gastar todos os maiores cartuchos nos primeiros momentos? Eu, como um homem da Amazônia, não vou gastar um cartucho de 12 em um nhambú. Vou preferir um cartucho de 36", argumentou o senador Sibá. Os integrantes da CPI votaram outros 37 requerimentos, em bloco, em que havia consenso. Entre eles, está o que prevê a reconvocação do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza.

No final da reunião da CPI, para constranger o PSDB, os petistas pediram preferência para que fossem votados requerimentos que atingem integrantes do partido, como a quebra dos sigilos e a convocação do ex-ministro Pimenta da Veiga, que recebeu R$ 150 mil de Marcos Valério. Mas o PT acabou desistindo da manobra quando começou a confusão entre o senador Sibá e o deputado Faria de Sá.

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