Furlan culpa política econômica pela queda do PIB

A retração da economia no terceiro trimestre provocou uma nova carga de "fogo amigo". Ao saber do resultado, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, comentou: "A política econômica produziu os resultados que eram previstos." Ele classificou o resultado de "preocupante" e observou que o número negativo abre caminho para um corte mais rápido nos juros.

Furlan disse que a queda do PIB é resultado do esforço feito "na busca de números positivos da inflação e na contenção de todos os pontos que estavam nas metas macroeconômicas". Por outro lado, o ministro observou que "é importante que haja uma retomada do crescimento e, aparentemente, essa retomada já começou e vai aparecer nos números do final do ano". O ministro acompanhava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua visita a Puerto Iguazú, onde se comemoraram os 20 anos do tratado Brasil-Argentina que deu origem ao Mercosul.

Em Brasília, o vice-presidente, José Alencar, disse que já esperava a queda do PIB, diante da atual política de juros. Alencar reclamou que sofre censura por repetir o discurso contra as "estratosféricas" taxas de juros. "Só espero que a queda do PIB seja sazonal", afirmou. "Para mim, isso não foi surpresa."

A uma platéia de militares que participavam de um seminário sobre a Amazônia, Alencar disse que os recursos para infra-estrutura e serviços essenciais são "desviados" para o pagamento da rolagem da dívida. Um dia antes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia afirmado em solenidade no Palácio do Planalto que a política econômica não era empecilho para a política social. O vice-presidente deixou claro que discorda da visão de Lula. "Sou censurado porque repito que os juros são despropositados e responsáveis pela falta de recursos para tudo que é absolutamente essencial", disse Alencar. "Alguém já ensinou, acho que foi Napoleão Bonaparte, que certos discursos devem ser repetidos."

Alencar arrancou aplausos dos militares ao dizer que no período colonial e republicano o País conseguiu levar à frente grandes obras e projetos, como fortes militares, Brasília, Petrobras e Vale do Rio Doce, sem dispor de dinheiro. Nesses períodos, no entanto, não havia exigência de cumprimento de metas de superávit primário, tampouco havia o Comitê de Política Monetária(Copom), alvos de críticas do vice-presidente.

"Temos de lembrar que hoje o Brasil tem mais recursos que naquele tempo", disse. Alencar evitou críticas diretas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e elogiou a "sensibilidade" de Lula e do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, pelos números positivos na área social.

Garrucha

O vice-presidente disse que, apesar das "dificuldades", o País tem como retomar o crescimento econômico, pois "Deus é brasileiro". "Enquanto as atividades produtivas não puderem remunerar o custo de capital, será difícil o País retomar o crescimento na dimensão que precisa e pode", salientou. "Sou muito persistente, acredito que ainda há tempo para mudar."

Alencar cobrou mais atenção do governo para a Amazônia, lembrando dos interesses de outros países na internacionalização da área. "Eu digo para vocês: tenho 74 anos, mas ainda tenho força para puxar o gatilho de uma garrucha na defesa da fronteira do Brasil", ressaltou. "Os recursos para a Amazônia estão aí e estão sendo desviados para o custo da rolagem da dívida."

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