Frustração de Doha

Aconteceu o que estava previsto na agenda antecipada da sexta reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), encerrada domingo em Hong Kong, depois de uma semana de agitados debates entre representantes de 150 países, sobre a liberalização das normas de comércio internacional.

O novo horizonte estabelecido, depois de socos na mesa e palavras ásperas, foi o ano de 2013, arquivando a expectativa dos países em desenvolvimento que lutaram com bravura para fixar o limite do corte de subsídios agrícolas em 2010.

Não houve avanço sensível no relacionamento comercial dos países ricos com os pobres, em especial os que se bateram por tratamento igualitário para a agricultura, vendo na providência um fator essencial de redução dos índices internos de pobreza.

Enquanto a temperatura fervia nas conferências, face o corajoso confronto do G-20 com a União Européia e Estados Unidos, lá fora a polícia tentava dissolver a jatos de gás de pimenta a ruidosa manifestação dos agricultores nacionais, defensores da política de flexibilização das normas impostas pelo bloco industrializado.

O item agricultura monopolizou os debates e, como se esperava, as reivindicações subscritas pelo G-20, grupo de países em desenvolvimento liderados por Brasil, Índia e China, pelo corte dos subsídios à exportação e produção primária na União Européia e Estados Unidos, foram rejeitadas sem a menor contemplação.

Não por acaso, o presidente Lula sugerira encontro de alto nível entre os presidentes do G-7 e principais dirigentes do G-20, antes da reunião de Hong Kong, a fim de aplainar o terreno e evitar o desfecho de mais um adiamento da Rodada de Doha, o terceiro desde 2001.

O ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, em sua derradeira intervenção no encontro da OMC, diante do fracasso diplomático de mudar as regras do jogo comercial – espaço que o Primeiro Mundo não pretende ceder -repetiu a sugestão de Lula, enfatizando que medidas dessa natureza, necessariamente, devem ser decididas por chefes de Estado.

Caso o encontro venha a ocorrer, os países pobres devem ter o apoio do primeiro-ministro Tony Blair, embora Pascal Lamy, diretor-geral da OMC, Peter Mandelson, comissário de Comércio da União Européia e Robert Portman, principal negociador comercial dos Estados Unidos, não tenham deixado dúvidas quanto ao lado em que estão.

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