“Frustalívios”

Reformou e embarcou para as Índias. O presidente Lula, pelo que parece, também está, como se declarou o ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, “frustaliviado” – frustrado por ter demitido companheiros de primeira hora das funções de governo e, ao mesmo tempo, aliviado por ter cumprido uma tarefa que se arrastava há mais de meio ano: incluir o PMDB no governo, para garantir, como disse, a governabilidade. Embora ninguém tivesse dito em qualquer momento que o governo estava ingovernável.

Mas pelo tamanho da mexida, imagina-se o quando andava mal a equipe, com arranhões e fissuras de toda ordem, começando pela companheira Benedita da Silva, a rezadeira agora sem-cargo, e terminando na maior surpresa que foi a substituição do ministro da Educação que, vinte e quatro horas antes, jurava permanecer no primeiro time. Seu “frustalívio” (o termo é dele, cunhado em terras portuguesas onde se encontrava lançando um livro particular, quando recebeu a demissão por telefone) ainda vai fazer escola, com certeza. Pode significar humilhação e desrespeito.

Depois vem a escolha do senador peemedebista Amir Lando para a Previdência, no lugar de Berzoini, que vai para o Trabalho, com a missão de tocar a reforma sindical e trabalhista. Se regular sua sensibilidade demonstrada com os velhinhos aposentados, ai dos sindicalistas e ai dos trabalhadores com carteira assinada. Essa é uma área enfurecida pela queda de pelo menos 15% no valor aquisitivo dos salários durante o primeiro ano de governo de Lula, sem contar os 17% de aumento no índice de crescimento do trabalho informal em todo o País…

Quem estava no Trabalho – Jaques Wagner – vira técnico em Desenvolvimento Econômico e Social, vaga deixada por Tarso Genro que, agora ministro da Educação, vai enfrentar sua filha (a radical sem partido Luciana Genro) na prometida e necessária reforma universitária. Com o status de superministro, comandará a área do Desenvolvimento Social e Combate à Fome o companheiro Patrus Ananias, enquanto Miro Teixeira deixa as Comunicações Sociais para Eunício Oliveira, outro do PMDB que entra. As outras mudanças – exceto a criação de quase três mil cargos numa canetada só – são de calibre menor.

Alguns detalhes saltam aos olhos nesta reforma levada a cabo mais com o endereço da composição política que com a finalidade do trabalho. Estão nas palavras usadas para justificar coisas óbvias. Lula, por exemplo, ao tentar justificar a pouca ação de alguns companheiros ministros sem pasta defenestrados, como o amigo Graziano e a amiga Benedita, confessou que, no Planalto, arranjar uma cadeira, uma mesa e uma sala é coisa muito difícil até para ele, presidente. Seria de sugerir que o presidente Lula faça, então, a reforma imobiliária do Planalto, desapropriando salas e mesas improdutivas (basta estas!).

Outro detalhe é essa sensação de recomeço, já pela segunda vez proporcionada por um governo com menos de treze meses de mandato. A primeira vez, foi quando Lula encolheu o programa Fome Zero, juntando-o com outros da área para dissimular o rotundo fracasso de uma de suas metas principais desde o começo. Agora, um terço do ministério é remanejado. Depois de um longo período de paralisia, outro longo período de transição e adaptação será necessário (aí já vem eleição, tempo normal de pouco trabalho). E lá se terá esvaído também um terço do primeiro (sim, porque no Planalto já se raciocina com um segundo!) período de mandato de Lula que, talvez, descobrirá que já não haverá tempo suficiente para o cumprimento de suas promessas, ainda agora reiteradas.

Ora, convém que agora a convocação para o trabalho seja para valer. Mesmo em áreas onde se pensava houvesse algum remanejamento, como na dos Transportes, é preciso tapar buracos, mostrar serviço, fazer jus ao dinheiro que os contribuintes pagam na esperança da prestação de serviços e benefícios sociais. Governar não é, apenas, fazer discursos.

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