Frigoríficos da região da aftosa suspendem operações

Eldorado, MS (AE) – Os três frigoríficos localizados na região interditada pelo foco de aftosa em Eldorado, no Mato Grosso do Sul, deram férias coletivas aos funcionários hoje (14) e suspenderam as atividades por um período mínimo de 15 dias. Com a suspensão do abate e da comercialização de carnes, as empresas ficaram sem condições de absorver os custos diários do funcionamento. No frigorífico Boifran, de Eldorado, que abatia 500 bovinos por dia, e processava 1 mil toneladas de carne por semana, apenas 10 dos 600 funcionários continuam trabalhando na manutenção.

O diretor Eduardo Ramalho, disse que a retomada das atividades vai depender da rapidez com que o embargo à produção será resolvido. "A gente precisa voltar a operar já na próxima semana." O desossador Antonio Costa espera retornar rápido ao trabalho. "Tenho filho pequeno e não é o tipo de férias que gosto de tirar." No frigorífico Bom Charque, de Iguatemi, também na zona sob emergência sanitária, que abatia de 800 a mil bois por dia, os 1.100 funcionários entraram em férias.

A situação, segundo a empresa, é mais complicada porque a maior parte da produção era exportada. O frigorífico Iguatemi, na mesma cidade, operava ontem com 30% dos 320 funcionários. Com a suspensão do abate, de 500 bois diários, apenas o setor administrativo estava funcionando. A paralisação pode ser total a partir de segunda-feira.

Segundo o gerente industrial Roberto Rocha, o embargo causado pela aftosa surgiu num momento em que a empresa começava a se recuperar de um ciclo de preços ruins, principalmente para os derivados, como a farinha de carne, miúdos e tripas. "Abatemos 555 bois na segunda-feira e não pudemos cortar." O estoque, mantido em câmara fria, inclui 160 bois do pecuarista Márcio Margatto, cliente do frigorífico. "Fiquei numa situação ruim, pois tenho compromissos para saldar."

O prefeito de Iguatemi, Lídio Ledesma, decretou situação de emergência no município em razão "dos graves prejuízos econômicos e sociais" decorrentes da aftosa. Os dois frigoríficos são os principais geradores de empregos na cidade de 15 mil habitantes. Em Iguatemi, a prefeita Mara Caseiro (PDT) reuniu representantes dos frigoríficos, sindicatos, associações comerciais e do governo para discutir a crise. Além do frigorífico, um laticínio também fechou e os produtores de leite estão perdendo a produção. A prefeitura pode decretar estado de emergência na segunda-feira. Na cidade, de 12 mil habitantes, a agropecuária responde por mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) anual, de R$ 36 milhões.

Pecuaristas e donos de frigoríficos vão pedir ao governo estadual a criação de um corredor sanitário, possibilitando o abate do gado transportado das outras regiões. "Não há razão para manter a indústria parada, pois a carne desossada não oferece nenhum risco", disse Ramalho, do Froiban. Ele lembra que após o surgimento de um foco de aftosa em Naviraí, região próxima, em 1999, foi liberado o transporte de carne sem osso por meio de corredores sanitários, controlados por barreiras.

Processo – O frigorífico Iguatemi vai entrar com ação de indenização contra o Governo do Mato Grosso do Sul para se ressarcir dos prejuízos que vem sofrendo com o surto de aftosa. A medida será tomada se a proibição de abates se mantiver a partir de segunda-feira. Segundo o gerente Roberto Rocha, a empresa entende que o foco surgiu em decorrência da omissão do Estado. Para ele, a Agência de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), órgão estadual que interditou o frigorífico, deveria ter evitado o aparecimento da aftosa. "Se foi omissa, deve arcar com a responsabilidade."

Segundo ele, o custo de um dia parado é "absurdo" e o frigorífico não tem culpa de não poder trabalhar. Além disso, a imagem da empresa será afetada pelo não cumprimento dos contratos firmados com os clientes. "Temos compromissos financeiros que não vamos poder cumprir, o que é constrangedor."

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