Fortuna diz em depoimento que Abin estava infiltrada nos Correios

Brasília (AE) – O capitão reformado da Polícia Militar de Minas José Fortuna Neves informou hoje (16), em depoimento à Polícia Federal, que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), estava infiltrada nos Correios desde o final de 2004, a mando da Casa Civil da Presidência da República.

Araponga até 1986 do antigo SNI, órgão antecessor da Abin, Fortuna explicou que o objetivo da agência não era inicialmente investigar corrupção na estatal, mas agir para interromper o contrato com a multinacional Unisys. A medida, conforme o militar, estava sendo implementada não só nos Correios, mas também na Previdência Social e em todos os órgãos federais.

Ele disse que tomou conhecimento do plano para varrer a Unisys dos negócios com o governo por meio do agente Edgar Lange o "Alemão", que chefiava a equipe infiltrada nos Correios. Amigo de Alemão desde os tempos do SNI, Fortuna disse ter sido contatado várias vezes pelo agente da Abin desde o final do ano passado. Num desses encontros, em fevereiro de 2005, ocorrido no shopping Venâncio Dois Mil, Alemão teria revelado o plano da Casa Civil.

Em dois outros encontros, na sede da empresa Atrium, pertencente a familiares do militar, o agente da Abin teria reafirmado a informação. O delegado Luiz Flávio Zampronha, encarregado do inquérito do caso Correios, considerou as informações "relevantes" e deverá convocar Alemão para novo depoimento. No primeiro, dado há uma semana, o agente omitiu esses detalhes.

O Ministério Público Federal requisitou hoje ao ministro-chefe do Gabinete da Segurança Institucional, general Jorge Félix, que remeta todos os relatórios, informações e dados da Abin em relação à operação Correios. A agência é subordinada a Félix que, segundo a investigação da PF, tinha pleno conhecimento das atividades dos agentes infiltrados.

Na primeira tentativa, enviada diretamente à Abin, o diretor-geral da instituição, Mauro Marcelo, recusou-se a enviar o material solicitado ao Ministério Público. Desta vez, o pedido foi dirigido ao ministro chefe do GSI, com a chancela do procurador-geral da República, Cláudio Fonteles.

A Abin, por sua vez, informou que a ordem para investigar a Unisys partiu do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após analisar relatório do Ministério da Previdência Social, que apontava a multinacional como co-responsável por fraudes milionárias no sistema de arrecadação e de benefícios previdenciários. A Unisys é responsável pela segurança do sistema, que vinha sendo violado com facilidade por quadrilhas de fraudadores, conforme o relatório.

A Unisys informou, por meio da assessoria, que não vai comentar o caso por enquanto. A empresa tem contratos com vários órgãos federais, estimados em mais de R$ 2 bilhões. Só com os Correios, a empresa tem contratos de cerca de R$ 188 milhões. Um deles, citado por Fortuna, é orçado em R$ 114 milhões anuais e refere-se ao Terminal de Acesso Público à Internet (Tapi).

Por meio da assessoria, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) informou que o serviço contratado, por licitação, junto à Unisys, integra o programa CorreiosNet e envolve a implantação de diversas soluções a serem colocadas à disposição da população, no contexto da inclusão digital. Abrange, entre outros, os projetos de Endereço Eletrônico, Mensageria e a instalação de terminais de acesso público à internet.

O contrato para implantação do projeto CorreiosNet Tapi tem por objetivo uma solução integrada, compreendendo instalação configuração e manutenção de equipamentos e aplicativos instalados nas agências, nos terminais de acesso e nos centros corporativos de dados de Brasília e São Paulo dos Correios.

Entre os clientes da multinacional no governo federal estão o Ministério do Trabalho, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. Com atuação em mais de 100 países, a multinacional tem sede nos Estados Unidos e está no Brasil há 75 anos.

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