Foi para o espaço

Todos nos rejubilamos quando o sorridente tenente-coronel da nossa Aeronáutica Marcos Pontes empreendeu uma viagem à estação espacial e lá foi unir-se a russos e norte-americanos, introduzindo o Brasil no círculo estreito e virtuoso dos países que já exploram outros mundos. A aventura, uma experiência científica e um passo histórico, seria comparável às primeiras investidas de valentes navegadores que atravessaram mares desconhecidos e acabaram descobrindo a América, inclusive o nosso País. Colombo, Pedro Álvares Cabral e muitos outros desbravadores figuram hoje nos livros de História. Seus feitos resultaram na descoberta de novos mundos. Eles alargaram o nosso mundo.

De igual ou maior importância foram feitos como o do pioneiro também brasileiro Santos Dumont, que há um século fez o seu vôo com o mais pesado que o ar, resultando na aviação, hoje incrivelmente adiantada, fruto da coragem de uns poucos lutando contra o ceticismo burro de uma maioria. Não fossem homens como Dumont e tantos outros e, mesmo alargando-se com as descobertas, este mundo continuaria pequeno. A aviação ensinou a vencer as distâncias e hoje a cosmonáutica, na qual acabamos de ingressar, acena para a conquista do universo.

O regresso à Terra, tecnicamente perfeito, do astronauta brasileiro aumenta o nosso regozijo, pois eram evidentes as preocupações diante das possibilidades de um acidente fatal com a nave russa que o levou e trouxe de volta. O Brasil está em festa, como em festa deve ter estado quando Dumont inventou a aviação. Os homens que ousam e criam empurram a humanidade para a frente e, sem eles, estaríamos condenados ao atraso, refugando as oportunidades de saltos de progresso.

Não obstante, há críticos severos dessa aventura brasileira no espaço, de carona regiamente paga, com os russos. O Brasil pagou nada menos de US$ 10,5 milhões pela passagem do astronauta Marcos Pontes, que na estratosfera desenvolveu experiências de interesse didático. Um turista norte-americano já demonstrou que, pagando, até um ignorante em matéria de astronáutica pode se aventurar em viagens dessa natureza.

O programa espacial brasileiro tem um orçamento carente de recursos. Na opinião dos nossos cientistas, é preciso dobrar para US$ 200 milhões por ano os recursos a ele destinados, uma ninharia em comparação com o preço da excursão do nosso astronauta. O foguete espacial brasileiro explodiu em 2003, matando 21 cientistas e técnicos. Não há dinheiro para refazê-lo e repetir as experiências verdadeiramente úteis que estão na pauta do nosso programa espacial. Experiências de interesse das previsões do tempo, da agricultura, etc. Esse dinheiro, usado em outros programas terrenos como o Fome Zero, de educação, saúde ou segurança, faria efeitos mais visíveis e mais aguardados.

Jogar um balde d?água fria na explicável e justa alegria do nosso astronauta e dos brasileiros que assistiram à sua façanha a bordo da estação espacial internacional é de mau gosto. É ser desmancha-prazeres. Mas raciocinar sobre quanto custou essa aventura de efeitos mais psicológicos que práticos e onde melhor e mais urgentemente essa dinheirama toda poderia ter sido aplicada é estabelecer prioridades. E quanto necessitamos de uma hierarquia de prioridades, neste País onde falta tudo de positivo e sobram mazelas e má gestão dos parcos recursos públicos!

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