Fim do PT

O ?impeachment? de Lula é possível, porém improvável. Embora possam ser encontradas razões legais para a medida extrema, por enquanto faltam condições políticas. Ele não só conserva forte apoio popular, ou pelo menos condescendência das massas, como tem o beneplácito das oposições. Estas, embora já tenham mandado estudar, juridicamente, o ?impeachment?, declaram publicamente que não desejam defenestrar o presidente. Temem o caos político em que entraria o País e que estimam duraria pelo menos uma década. Poderia repetir-se o cenário da Venezuela, onde Cháves escuda-se nas massas populares e as joga contra a sociedade organizada, para agarrar-se ao poder. Isto já causou lutas nas ruas e quase uma guerra civil.

Possível e até provável é o fim do PT. O partido pode simplesmente desaparecer, engolfado em luta interna e com a perda da aura ideológica, programática e, principalmente, ética com que sempre apresentou-se à nação.

Descoberto o mensalão e o uso extensivo do caixa 2 para eleger os candidatos petistas e arrebanhar aliados, verificou-se que as negociatas aconteciam dentro do próprio partido de Lula. E que o dinheiro vinha de fontes duvidosas e até de contas secretas no exterior. Tudo o que o PT sempre condenou.

A solução emergencial encontrada foi fazer uma espécie de intervenção na direção do partido, colocando na sua presidência, provisoriamente e com intenções de que se torne definitiva, o ex-ministro da Educação e ex-prefeito de Porto Alegre Tarso Genro. Essa intervenção foi um processo interno. Não foi resultado de exigências de Lula, o que seria desejável.

O PT já havia expulsado de suas fileiras alguns parlamentares éticos, ortodoxos, autênticos, como a senadora Heloísa Helena, a deputada Luciana Genro, filha de Tarso Genro, Babá e outros que constituíram uma nova sigla, esta sim de esquerda e frontalmente contrária à política econômica e social do governo Lula.

Agora, a crise une o resto dos petistas de esquerda, ortodoxos e éticos que criaram uma dissidência que reúne mais de vinte deputados e senadores, inclusive o ex-ministro da Educação, senador Cristovam Buarque, ex-governador do Distrito Federal. Aquele que recebeu um puxão de orelha público de Lula quando reclamou da falta de verbas para a Educação.

Uma dissidência desse tamanho, e que tende a aumentar, enfraquece mais o partido, que já está frágil pelas denúncias e não figura entre as grandes agremiações políticas do País. O perigo é começarem as defecções. Cristovam Buarque adiou seu desligamento definitivo do PT, mas assegura que vai sair. Entre os parlamentares da dissidência, não são poucos os que falam também em entregar a estrela e a carteirinha do PT, já que discordam dos rumos que o partido seguiu, tanto no campo moral, quanto na política econômica. Poderão, inclusive, sair em bloco.

Essa hipótese torna-se agora até provável, pois a intenção de Genro e desse grupo era a renovação total do PT, com o alijamento, de seu comando, de todos os que pertenceram à direção anterior e direta ou indiretamente estavam envolvidos ou coniventes com as negociatas. Mas José Dirceu, apontado como o chefe das negociatas, já disse com todas as letras que não renuncia ao seu mandato de deputado, nem à condição de candidato à presidência do PT. Além do mais, o PT deve sofrer algumas cassações. Formou-se o impasse que pode levar o partido a uma condição tísica que ditaria seu desaparecimento.

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