Famílias de vítimas da violência organizam protesto

"O importante é que o João não se torne mais um número na estatística de vítimas de violência. Não podemos deixar o João cair no esquecimento." Com voz embargada, tentando controlar a emoção, Carlos Ribeiro – pai da jovem Gabriela Prado Ribeiro, morta há quatro anos, aos 14, atingida por uma bala perdida durante tiroteio no metrô do Rio – falou neste sábado sobre o crime bárbaro que chocou o País esta semana

Ele é um dos organizadores de uma grande manifestação de protesto que está sendo preparada para terça-feira, no sétimo dia da morte do menino. João Hélio Fernandes, de 6 anos, foi brutalmente assassinado por ladrões que levaram o carro de sua mãe, na noite de quarta-feira, na zona norte do Rio. O menino ficou preso ao cinto de segurança, pelo lado de fora do carro, e foi arrastado por sete quilômetros pelos bandidos

O ato de protesto, que reunirá parentes de outras vítimas de violência, ainda não tem local definido. Ribeiro, ao falar sobre o assassinato de João, lembra de sua própria história e afirma que nada será capaz de extinguir o martírio da família, refugiada em casa de parentes, para fugir do assédio da imprensa. "Não há palavras para expressar a dor (de perder um filho). É incurável. A única coisa que me deu serenidade, tranqüilidade espiritual foi não deixar que a morte (da Gabriela) se tornasse mais um número", disse

A comoção nacional provocada pela morte de João Hélio é proporcional à crueldade do crime, que atingiu uma escala inimaginável. O novelista Manoel Carlos, autor de Páginas da Vida, o folhetim do horário nobre da TV Globo, incluiu, de última hora uma cena em referência ao caso. Na última sexta-feira foi ao ar o capítulo no qual os personagens das freiras Fátima (interpretada pela atriz Inez Viana), Natércia (Bete Mendes) e Zenaide (Selma Reis) leram, chorando, a notícia na primeira página de um jornal

Manoel Carlos, que perdeu, em 1988, o filho Ricardo, aos 34 anos vítima da Aids, foi veemente sobre a morte do menino João. "É um caso de comoção internacional. Um jornal, em um dia de domingo, tem tiragem de 500 mil exemplares. Uma novela é assistida por 50 milhões de pessoas", disse, comentando que é necessário expor o caso e mobilizar a sociedade para o combate à violência. Ele comentou que, desde a noite de sexta-feira, já recebeu mais de 500 e-mails de telespectadores, que comentavam a cena. "Eu uso a novela para dar o meu grito contra coisas assim.

O choque pela morte de João Hélio atingiu a todos. Neste sábado, o site de relacionamentos Orkut registrou centenas de comunidades de luto pela morte do menino. Uma delas batizada de "Luto João Hélio Fernandes", já tinha mais de 1,3 mil acessos, com cerca de 70 tópicos de discussão sobre a morte da criança. Outra, batizada de "Justiça pela morte de João Hélio" assume o tom de indignação da sociedade civil pelo ocorrido. No texto de apresentação da comunidade, um apelo: "Não podemos nos calar, deixar que a violência continue destruindo famílias, matando pessoas inocentes, sem dizer a insegurança e medo que nos assombra a cada dia.

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