Família de advogada morta no Metrô não tinha esperança

A família da advogada Valéria Alves Marmit, de 37 anos, já havia perdido a esperança de vê-la viva quando um corpo foi encontrado e não identificado segunda-feira na cratera aberta com o desabamento das obras do Metrô da capital paulista. O ex-marido, Wagner Marmit, de 37 anos, com quem foi casada por dez anos e de quem se separou há dois, decidiu contar aos filhos do casal, os gêmeos Guilherme e Edgard, de 11 anos, que a mãe não voltaria mais. "Foi terrível. Desde então, eles não param de chorar", disse ontem o tio das crianças, Wolfgan Marmit. Valéria será enterrada hoje em Carapicuíba, na Grande São Paulo, onde morava. Não haverá velório.

Wolfgan ficou com os sobrinhos em casa desde o sábado, quando os parentes se deram conta do desaparecimento de Valéria, pois Wagner, que soube do acidente pelo noticiário, decidiu vir a São Paulo para acompanhar o resgate. Os meninos moravam com a mãe, mas estavam de férias na casa do pai havia uma semana.

Sob a guarda do tio, Guilherme e Edgard foram mantidos longe da TV durante o fim de semana. "Procurávamos distraí-los a todo momento, com brincadeiras e videogame, para que não ouvissem nada sobre o acidente", disse Wolfman. "Pensavam que o pai tinha voltado a trabalhar e, como estão de férias, não estranharam passar uns dias na casa dos primos." Os avós paternos, Conrad, de 69 anos, e Neide, de 65, chegaram ontem de São Vicente, onde moram, para ficar com os netos. "A pior parte ainda vai chegar, que é enfrentar o enterro da mãe e, depois, a falta que ela certamente fará na vida deles", disse o tio.

Desaparecimento

Juliana, de 18 anos, filha mais velha de Valéria, de um relacionamento anterior, soube do acidente desde o início. Ela e os gêmeos viviam com a mãe em um apartamento na Cohab de Carapicuíba. Foi Juliana quem avisou Wagner, no sábado, de que a mãe não havia dormido em casa. Wagner logo relacionou o desaparecimento da ex-mulher com o acidente. Valéria trabalhava em um escritório de advocacia no Alto de Pinheiros e costumava pegar o trem para Carapicuíba na estação homônima da CPTM, ao lado de onde está sendo construído o metrô. Acredita-se que ela tinha pego o microônibus no Alto de Pinheiros e se preparava para descer quando aconteceu o desastre.

Valéria era uma mulher simples e batalhadora. Perdeu os pais ainda jovem, não tinha irmãos ou outros parentes próximos e passou a se sustentar sozinha. Em 2005, conseguiu realizar um antigo sonho: formar-se em Direito. O curso foi concluído "com sacrifício", segundo a família, na Universidade Bandeirante de São Paulo, campus de Osasco. Valéria estava inscrita como estagiária na OAB-SP e prestaria a segunda fase do exame da Ordem no domingo. O presidente da entidade, Luiz Flávio Borges D’Urso, divulgou nota lamentando a morte "precoce’"de Valéria.

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