Ex-presidente da ECT apontou causas estruturais da corrupção na estatal

O depoimento do ex-presidente dos Correios, Egydio Bianchi, à sub-relatoria de Contratos da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios apontou pistas quanto às "causas estruturais" da corrupção nos Correios, avaliou o sub-relator, deputado José Eduardo Cardoso (PT-SP). Bianchi depôs durante cinco horas e meia na tarde de terça-feira (25).

"O depoimento é relevante pois permite ter um diagnóstico da vida dos Correios numa situação que antecede o atual governo mas que, evidentemente, tem ligações do ponto de vista de certos contratos que são acusados de superfaturamento ou de desvios desde aquela época até os dias atuais", afirmou Cardozo.

Bianchi criticou o sistema de terceirização dos serviços postais, feito por meio da concessão de franquias pelo governo Fernando Collor, em 1990, com prazo de vigência de 10 anos. "Na minha opinião, isso foi uma ação entre amigos. Alguns franqueados eram pessoas completamente equivocadas, que não têm competência para gerir uma banca de jornal", afirmou o ex-presidente dos Correios à CPMI. "Ao que consta, foram escolhidos sem qualquer critério empresarial".

A CPMI investiga a suspeita de que alguns franqueados atuam como "laranjas" de deputados. Na semana passada, a CPMI ouviu Juliana Duarte, ex-sócia da agência franqueada dos Correios do Shopping Tamboré, em São Paulo. A agência é uma das rentáveis do país, com receita anual de R$ 144 milhões. No entanto, Juliana disse ter renda familiar inferior a R$ 10 mil mensais. "Os índícios são de que os sócios de fato eram ‘laranjas’", disse Bianchi.

Indagado sobre o repasse de recursos de algumas das empresas de publicidade contratadas pelos Correios à DNA Propaganda ? que tinha como sócio o empresário Marcos Valério de Souza. Bianchi afirmou que "dentro da funcionalidade dos Correios", não havia nada que justificasse tais procedimentos.

"Se confirma uma relação muito próxima entre as empresas de Marcos Valério e aquelas que, à época em que o ministro Pimenta da Veiga comandava o ministério das Comunicações, eram contratadas pelos Correios", afirmou o subrelator. Cardozo destacou ainda que a empresa Giacometti Associada, que detinha uma das contas publicitárias dos Correios, ocupava a mesma sala antes ocupada pela DNA em Brasília.

"Existem muitas irregularidades nos contratos dos Correios, existe superfaturamento, licitações induzidas, e isto precisa ser sistematizado para que a sub-relatoria que cuida das movimentações financeiras possa associar nossos resultados a uma eventual situação de deslocamento de recursos públicos dos Correios para abastecimento indevido de agentes públicos ou de campanhas eleitorais", declarou Cardozo. Uma conclusão parcial dos trabalhos da CPMI dos Correios deve ser apresentada pelo relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) na quinta-feira (27).

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