Encontro discute potencial da agricultura orgânica no Paraná

No Paraná, 4.122 agricultores cultivam produtos orgânicos. Este número representa 21% dos produtores rurais brasileiros que se dedicam à produção orgânica. ?Hoje, apenas 1% das 370 mil propriedades paranaenses é orgânica. Mas o segmento vem crescendo paulatinamente. Para os próximos anos, pretendemos multiplicar por 10 a quantidade de propriedades orgânicas no estado.

Assim, 10% do total de estabelecimentos rurais, no Paraná, serão orgânicos?, afirmou o coordenador estadual de agricultura orgânica da Emater, Iniberto Hamerchmidt.

Esta informação será apresentada e discutida no III Encontro Regional de Agricultura Orgânica, que acontece nesta quarta-feira (03) em Ivaiporã, na região central do Estado.

Além de ter acesso aos dados sobre a agricultura orgânica no mundo, no Brasil e no Paraná, o participante do evento poderá debater sobre os princípios e conceitos do manejo ecológico do solo, as estratégias de conversão para a agricultura orgânica e as práticas agroecológicas.

Segundo Hamerchmidt, em todo o mundo são cultivados 35 milhões de hectares com orgânicos. ?São 500 mil propriedades orgânicas em mais de 100 países?, disse.

Assentamentos

Para o coordenador, o crescente interesse pela produção orgânica no Paraná pode ser explicado pela participação cada vez maior dos assentados nesse segmento.

Segundo ele, a Jornada Paranaense de Agroecologia, realizada em Cascavel no final de maio, reuniu cerca de seis mil produtores. ?A maioria deles era proveniente de assentamentos do Paraná. Se computarmos a participação dos assentados, a quantidade de produtores de orgânicos no Paraná é muito maior?, disse.

Hamerchmidt lembrou que os assentamentos já iniciaram o processo de conversão da agricultura convencional para a orgânica. ?Hoje, por exemplo, o Assentamento Contestado, no município da Lapa, reúne 60 agricultores que já produzem organicamente. A produção deles já é certificada pelo Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural de Botucatu (IBD)?, comentou.

O coordenador destacou que, apesar do interesse dos assentados, é preciso adequar a produção dos assentamentos ao sistema de certificação da propriedade. ?Assim, poderemos considerá-los como produtores de orgânicos ou agroecológicos?, afirmou.

Produção – Na safra 2003/04, o Paraná produziu 66.256 toneladas de orgânicos. A produção orgânica do estado movimentou 60 milhões de reais.

A área plantada com orgânicos foi de 11.252 hectares. ?Cerca de 15% da área plantada com culturas orgânicas no Brasil?, disse o coordenador. O País possui 841 mil hectares com produtos orgânicos. Ao todo, são 19 mil propriedades orgânicas.

A soja é o principal produto do segmento. Na safra passada, a área plantada com a cultura foi de 4.523 hectares. Quanto ao volume de produção, sobressai a cana-de-açúcar. Foram 19.486 toneladas do produto, usado na produção de açúcar mascavo e cachaça.

No cenário nacional, o Paraná destaca-se pela diversificação dos produtos. ?Isto se dá em função da nossa diversidade climática?, disse o engenheiro agrônomo da Secretaria da Agricultura, Maurício Tadeu Lunardon.

Segundo ele, a produção orgânica de café e frutas tropicais ocorre na região norte do estado. No centro-sul, o milho e o feijão são os mais cultivados. A produção orgânica de banana e arroz destaca-se no litoral. Na região metropolitana de Curitiba, é incentivado o cultivo as hortaliças. Já os grãos orgânicos predominam no sudoeste do Estado. ?A diversidade na produção beneficia a agroindústria orgânica. Esta encontra-se bastante adiantada no estado?, disse Lunardon.

Profissionalismo

No Paraná, a agricultura orgânica gera 20 mil empregos diretos. ?É um segmento comprometido com o social?, disse Hamerchmidt. Esta também é a opinião da família Maschio, que se dedica à produção orgânica, há 10 anos, no município de Colombo, região metropolitana de Curitiba.

Numa área de dois hectares, os Maschio cultivam, principalmente, morango. Na safra passada, a família colheu entre 400 e 450 gramas do produto pr planta. Com a rotação de culturas, os Machio também produzem alface e brócolis. Recentemente, iniciou na produção de alcachofra.

?Quando começamos a produzir orgânicos, pouco se sabia sobre a técnica. Para nós, era novidade. Hoje, trabalhamos com estufa, já descobrimos muitas caldas e a produção melhora a cada ano?, disse o produtor Paulo Alessandro Maschio.

Segundo ele, as práticas garantem o equilíbrio da propriedade. Fazemos o manejo adequado e diminuímos a presença de pragas e doenças em nossas lavouras. Com o tempo, a gente se profissionalizou?, lembrou. Para este ano, as expectativas também são positivas. ?Esperamos repetir, no mínimo, a produção de 2004?.

Exportação

Envolvido com a produção de orgânicos desde 1999, o produtor João Frez, do município de Ivaiporã, lembra que tudo começou com o cultivo de maracujá. ?Fui o primeiro produtor da região central do Estado a exportar maracujá orgânico para o Estados Unidos e Suíça. Isto foi na safra 1999/2000. De lá pra cá, diversificamos a produção. Sempre de olho no mercado externo?, contou.

Segundo Frez, que é presidente da Associação Regional dos Produtores de Orgânicos do Vale do Ivaí (Biovale), atualmente, também são exportados soja, mandioca e café orgânicos.

A Biovale, com sede no município de São João do Ivaí, reúne 45 produtores de 14 municípios. ?Cerca de 90% da nossa produção vai para o exterior. Nossos produtos são consumidos em vários países do mundo?,disse.

Segundo o produtor, vários fatores levaram a optar pela agricultura orgânica. Entre eles, o uso excessivo de inseticidas, que precisava ser abandonado. ?Além disso, o preço final da produção convencional não era estável. Eu procurava por um mercado que garantisse um preço diferenciado para meus produtos. Também tinha decidido vender alimentos com melhor qualidade?, lembrou.

Quanto ao III Encontro Regional de Agricultura orgânica, Frez disse que as expectativas são as melhores. ?O evento vai reunir grandes nomes da agricultura orgânica. Também vai contar com a participação de várias empresas, entidades e associações que valorizam o orgânico. Por isso, precisamos participar?, concluiu.

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