Em debate no jornal ‘O Globo’, Lula faz críticas a Serra

Sob pesadas críticas da aliança PSDB-PMDB, o candidato da coligação PT-PL-PMN-PCB-PC do B à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, comparou hoje o presidenciável tucano José Serra, que o tem atacado, a “um afogado” que lhe estende a mão.

Em tom irônico, na última das entrevistas da série promovida pelo jornal O Globo, o petista também criticou, sem citar nominalmente, o publicitário Nizan Guanaes, que cuida do marketing da campanha tucana, e afirmou que o profissional trabalhou na campanha de Roseana Sarney até que a “serraram”. Ele garantiu que vai responder às críticas, mas sem “baixaria”.

 “Olha, eu tenho evitado debater, porque tudo o que o meu adversário quer é duelar comigo. Ele quer que eu aceite todas as provocações”, afirmou ele. “Na verdade, é como se fosse um afogado tentando estender a mão para mim. Não estou muito a fim de entrar nessa briga.” Lula disse que não vê problemas em utilizar propostas que foram lançadas por outros políticos – o programa do PSDB-PMDB o acusou de, com o projeto Farmácia Popular, apenas reproduzir idéias já defendidas no passado por Paulo Maluf.

“O homem que faz o marketing do Serra era o homem que estava com a Roseana porque não gostava do Serra”, disse ele, referindo-se veladamente à operação da Polícia Federal que acabou levando Roseana à renúncia. “Aí, serraram a Roseana, e ele veio para o Serra. A impressão que passou pela imprensa é que foi ele que escolheu a vice do Serra. Perguntaram se ele concordava com as críticas dele ao Ciro, e ele quase confessou: ‘Eu não sabia que o programa estava assim’. Ou seja, ele não tem o controle de tudo. Porque não quero brigar? O povo não gosta disso.”

O petista prometeu, porém, que vai procurar o PSDB para conversar e deixou claro que poderá convidar tucanos para seu possível governo.

Bem-humorado, Lula fez várias piadas e arrancou aplausos e gritos várias vezes do auditório no quarto andar do jornal, que estava lotado – foi o único candidato que falou para a casa cheia. Ele também lembrou o preconceito que, como nordestino, sofreu em São Paulo para criticar quem o ataca.

“As pessoas dizem: ‘Ô, Lula. Diz que o Serra também não tem diploma. Bobagem, isso não interessa. Gosto tanto de um diploma que quero deixar como legado para meu filho um diploma e quero que o povo brasileiro tenha possibilidade de ter um diploma”, afirmou ele, lembrando sua trajetória pessoal.

“Estas pessoas preconceituosas imaginam o trabalhador como aparece no século 19, na Inglaterra. O trabalhador escravo, trabalhando 16 horas, comendo naquelas gamelas, com a unha cheia de graxa… Não, eu gosto de fazer minha unha, aprendi a fazer minha unha, é melhor do que andar com a unha cheia de graxa. Então, isso incomoda. Então, o preconceito vem.”

O petista criticou a alta do dólar e afirmou que pretende procurar novamente o governo, para pedir explicações públicas sobre a crise. “Eu hoje propus ao presidente do meu partido, o José Dirceu, que deveríamos convocar uma reunião de um conjunto de pessoas importantes no Brasil, para fazer uma pauta para conversar com o presidente Fernando Henrique Cardoso”, disse. “Eu disse ao Zé Dirceu que precisamos retomar essa reunião e voltar ao presidente Fernando Henrique Cardoso, e exigir do Armínio Fraga, do Malan e do próprio presidente uma explicação pública do porquê que está acontecendo este aumento do dólar, que não é por causa da eleição.”

Dólar

Lula descartou a possibilidade de o dólar estar subindo por motivos políticos. De manhã, na quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, Lula criticou veladamente há pouco a gestão de Serra no Ministério da Saúde. Sem citar nominalmente o candidato do governo a presidente, Lula afirmou que apenas 3% da população brasileira tem acesso aos medicamentos genéricos, que têm sido usados como bandeira de campanha por Serra em seu programa de TV, e lembrou da epidemia da dengue no Rio. No seu discurso, Lula explicou porque decidiu fazer o lançamento do seu programa para a área de saúde no Rio de Janeiro.

“Aqui, foi o exemplo maior do desleixo do governo federal no combate à dengue, quando não só permitiu que aqui tivéssemos 450 mil casos da doença como mandou embora quatro mil pessoas que combatiam o mosquito (que transmite a enfermidade)”, afirmou.

Lula disse que o Brasil não pode mais permitir que uma pessoa passe dias ou meses na fila à espera de atendimento médico, “sofrendo humilhações”. Ele afirmou que os trabalhadores da área médica precisam recuperar a auto-estima pelo Brasil e voltou a alfinetar Serra, embora sem citá-lo. “Se alguma coisa funciona no Ministério da Saúde hoje é por causa dos companheiros de partidos de esquerda que trabalham lá”, disse, indiretamente minimizando a importância da passagem de Serra pela chefia do órgão.

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