Economista brasileiro fala dos horrores que viveu em New Orleans

Rio (AE) – Ao contrário do cada um por si, que gerou brigas e atos de vandalismo após a passagem do furacão Katrina em New Orleans, o economista brasileiro Jozé Cândido Sampaio de Lacerda Neto, de 26 anos, optou pela união para suportar momentos difíceis e conseguir sair da cidade, junto com cerca de mais 100 turistas. Segundo ele, foi o esforço conjunto que o fez desembarcar hoje no Aeroporto Antônio Carlos Jobim. A mulher dele, Letícia de Lalôr, contou ter ficado "muito chateada" com o desempenho das autoridades brasileiras.

"Eu fiz o papel do Itamaraty", declarou.

Vindo de Miami, o vôo de Neto aterrisou no Rio com quase duas horas de atraso, aumentando ainda mais a ansiedade de Letícia, dos pais e da irmã dele. A filha do casal, Luana, de sete meses, acabou dormindo nos braços da mãe e não acordou nem mesmo na hora do abraço emocionado da chegada. Um dos últimos a desembarcar, trazendo uma mala e uma bolsa, o economista relatou que "a experiência foi terrível" e que os piores momentos ocorreram dois dias após a passagem do furacão, quando o hotel para onde havia sido transferido foi também evacuado.

"Desde quarta-feira foi muito ruim porque a gente já estava meio que sem água, com racionamento de comida. Na quinta-feira a gente já estava dormindo na rua e na sexta a gente estava num campo horroroso, sem perspectiva de conseguir sair. Os três dias finais foram terríveis", recordou o brasileiro, contando que na quarta-feira estava com a passagem de volta, mas acabaram confiscando o ônibus, desviado para pegar vítimas em maior situação de risco, segundo foi comunicado.

Neto estava em Chicago participando de um curso e, movido pela paixão pelo jazz, decidiu passar o fim de semana em New Orleans antes de retornar ao Brasil. Embora não tenha considerado a passagem do furacão o momento mais dramático da semana passada, surpreendeu-se com a força do Katrina, tanto que tentou arrastar móveis para perto da janela, com receio de algo entrar quarto adentro. "Ele não conseguiu e acabou botando o colchão", contou Letícia, acrescentando que o marido encheu a banheira de água ao saber da possibilidade de racionamento. Apesar das dificuldades, disse que o marido permaneceu calmo até o momento em que se viu sitiado. "Aí senti que ele ficou tenso".

Segundo o economista, no campo onde estava havia cerca de cinco mil pessoas desassistidas "A gente juntou um grupo de turistas, porque era melhor do que cada um por si, e começou a fazer pressão. Mas, quando dava, porque víamos crianças, recém-nascidos e senhores de idade em situações muito piores, que não estavam tendo atendimento", disse, acrescentando que deixou a cidade em um ônibus da Cruz Vermelha, no meio da noite, e chegou a Miami depois de passar por outras duas cidades do Estado de Louisiana – Alexandria e Baton Rouge – e por Dallas.

A mulher de Neto ressaltou que em todos os contatos feitos com o consulado do Brasil em Houston era ela quem dava informações sobre o marido, quando deveria ser o contrário. "Eu fiquei muito chateada.

Quando ele chegou em Alexandria, eles ligaram e eu disse: agora que ele conseguiu sair de lá sozinho, ele vem sozinho para Brasil", afirmou, contando que só dispensou a ajuda depois de conversar com o economista.

Ao chegar, ele disse ter sabido que o governo havia sido "bastante solidário", mas perguntado se havia recebido ajuda do Itamaraty, respondeu: "Até onde eu sei, foi o grupo que conseguiu se virar".

Os brasileiros Antonio e Angela Medalha também desembarcaram hoje pela manhã no Rio, onde foram recebidos com uma festa por familiares e amigos na zona sul, onde moram. Aliviados por estarem de volta depois da turbulenta temporada de férias em New Orleans, eles criticaram a demora do governo americano para enviar socorro à cidade.

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