Vendas da indústria frustram expectativas

As vendas da indústria apresentaram em outubro a quarta queda consecutiva, recuando para 0,91% (dado dessazonalizado) na comparação com setembro. Entre julho e outubro, o faturamento das indústrias acumula retração de 3,61%, segundo dados divulgados ontem pela CNI (Confederação Nacional da Indústria).

?As fracas vendas industriais de outubro frustram expectativas de um desempenho mais otimista para o quarto trimestre. Dentre os fatores que justificam o arrefecimento da atividade industrial, ressaltamos os dois principais: os juros altos e a valorização do real?, destacou a CNI no boletim, indicadores industriais de outubro.

A expectativa de um quarto trimestre melhor tem sido alimentada pelo governo federal que, após a divulgação na semana passada de que a economia brasileira encolheu 1,2% no terceiro trimestre, considerou o resultado apenas um ?ponto fora da curva? de crescimento.

A CNI, no entanto, também destaca a desaceleração do ritmo de crescimento das vendas da indústria. No primeiro semestre, o aumento do faturamento foi de 4,8%. Já no acumulado de janeiro a outubro, o crescimento está em 2,28%.

Apesar da queda nas vendas, foi registrado em outubro um pequeno aumento no índice que mede a utilização da capacidade instalada. O dado dessazonalizado passou de 80,7% em setembro para 81,1% em outubro. Em relação a outubro de 2004, no entanto, houve queda – o índice à época estava em 83,9%.

Para a CNI, o aumento em relação a setembro é justificado pela maior demanda verificada no fim do ano. ?Descontada a sazonalidade, entretanto, o indicador de outubro é o segundo mais baixo do ano, só maior que o de setembro. Esse pode ser um indício de fraca atividade econômica?, diz o boletim.

Crescimento

A CNI refez para baixo a previsão para os principais indicadores da economia brasileira. Estimativas preliminares indicam que a projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) deverá cair de 3,5% para cerca de 2,5%. A previsão para o crescimento da indústria geral deverá ser reduzida de 4,4% para aproximadamente 3%, e a projeção para o crescimento da indústria de transformação deverá cair de 4% para cerca de 2%.

Segundo o coordenador da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, a combinação de juros altos e câmbio valorizado frustrou o desempenho da economia ao longo do ano, com impactos sobre os investimentos no segundo semestre.

Os indicadores industriais de outubro, divulgados ontem, mostraram que a valorização do real diante do dólar afeta a lucratividade das empresas exportadoras. Isso pode restringir novos investimentos e comprometer o crescimento futuro da economia, que foi puxado pelo desempenho das vendas externas ao longo deste ano. Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostram que a rentabilidade média das exportações caiu 14,5% entre janeiro a agosto de 2005 na comparação com o mesmo período de 2004.

A boa notícia dos indicadores de outubro foi a continuação da alta dos salários pagos aos trabalhadores da indústria pelo oitavo mês consecutivo. O economista Paulo Mol, da CNI, explicou que esse crescimento é sustentado pela combinação de dois fatores. Os altos reajustes nominais dos salários que foram feitos tendo como base a inflação passada, que foi mais alta que a atual. E como a inflação de hoje é baixa, o poder de compra do salário se mantém por mais tempo. Em dois anos, os salários aumentaram 20%.

Para os economistas da CNI, a indústria está preparada para atender aos aumentos de demanda no curto prazo. Isso porque há indícios de maturação de investimentos para aumentar o parque produtivo ao longo deste ano. No mesmo período em que o nível de utilização de capacidade instalada caiu 2,6 pontos percentuais, passando de 84,4% em outubro de 2004 para 81,8% em outubro deste ano, as horas trabalhadas aumentaram 2%.

Voltar ao topo