Uso do GNV esbarra na oferta e demanda

A expansão do mercado de gás combustível natural, mais conhecido como GNV, está preocupando governo e investidores. E não é pelos rendimentos que o setor abriga, o que contradiria o crescimento do setor, mas pelas políticas que envolvem oferta e demanda do produto. Na última semana, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Nelson Hubner, declarou que há risco de desabastecimento caso o aumento da procura pelo combustível continue nos níveis atuais.

Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o volume de GNV comercializado no primeiro trimestre cresceu 24,3%, se comparado ao mesmo período do ano passado. O que o setor teme, agora, é que os programas de incentivo ao uso do GNV – que se destaca pelo baixo custo no consumo e por não poluir o meio ambiente – se torne mais um pró-álcool na vida do empresário e do consumidor brasileiro.

?No Brasil nós vivemos surtos de boas iniciativas que acabam virando pesadelos. Este é um dos casos. Na década de 80, por exemplo, teve o investimento no álcool. O governo incentivou e, de um momento para o outro, houve um desestímulo. Quase levamos o programa do pró-álcool à lona?, comentou o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Derivados de Petróleo e Lojas de Conveniência do Estado do Paraná (Sindicombustíveis/PR), Roberto Fregonese.

Ele destaca os investimentos na área. ?Primeiro, teve o desenvolvimento da tecnologia. Depois, governo e povo investiram com milhares de quilômetros de tubulações. Os postos investiram para comprimir o gás e colocá-lo à disposição do consumidor e o consumidor transformou o veículo?, enumera. Fregonese não acredita, porém, que Curitiba seja um bom exemplo a ser dado, já que na cidade há apenas cerca de 13 mil veículos transformados. Número insatisfatório diante dos cerca de 800 mil veículos convertidos a GNV em todo o Brasil, que deve alcançar até o ano que vem o título de País com a maior frota de veículos movidos a gás natural do mundo.

Investimentos

O presidente da Companhia Paranaense de Gás (Compagas) – empresa responsável pela distribuição de gás natural no Paraná -, Rubico Camargo, considerou lamentável o comentário proferido pelo secretário do Ministério das Minas e Energia e acredita haver uma confusão entre a oferta e demanda do GNV nas diferentes regiões do País. ?Primeiro deveriam discutir com os agentes do mercado e transmitir a preocupação do governo. Por outro lado, essa preocupação se prende a um problema de abastecimento no Nordeste do Brasil. A região vive uma fase de esgotamento da oferta porque o investimento nos gasodutos está atrasado e o crescimento da demanda, adiantado?, explicou, destacando ser o gás natural do Sul proveniente da Bolívia, enquanto no Nordeste o produto tem origem nas reservas brasileiras, ainda em fase de investimentos.

Ele destaca o Estado do Paraná como o menos favorecido de sua região com o traçado do gasoduto. ?Só passa por Curitiba. Mas já estamos expandindo e temos planos de levá-lo para o interior. Já estamos no pólo industrial de Ponta Grossa e este ano vamos levá-lo para dentro da cidade, colocando também um posto de combustível?, disse o presidente, que, mesmo reconhecendo a expansão do GNV para uso em automóveis, afirma ser o uso industrial foco de 90% da atuação da companhia. Nos últimos seis anos, a empresa somou investimentos de mais de R$ 80 milhões nos sistemas de distribuição.

Voltar ao topo