Unilateralismo dos EUA não deve afetar a OMC

São Paulo Apesar do desprezo dos Estados Unidos pelas Nações Unidas, diplomatas e analistas brasileiros acreditam que o unilateralismo de Washington dificilmente se estenderá para a Organização Mundial de Comércio (OMC), a instituição multilateral que regula a liberalização do comércio internacional. Para alguns, é possível até que a OMC se fortifique.

O embaixador Valdemar Carneiro Leão, diretor do Departamento Econômico do Ministério das Relações Exteriores e um dos principais negociadores brasileiros na Rodada Doha da OMC espera que a guerra dos Estados Unidos contra o Iraque acabe por mobilizar a comunidade internacional a revalorizar o multilateralismo. Mas não esconde o pessimismo em relação à Rodada, que já vivia impasses, sobretudo no setor agrícola, muito antes do início da guerra.

Em sua análise, o embaixador também levantou a hipótese de que o impacto da guerra no cenário econômico mundial seja ainda mais negativo, derrubando os baixos índices de crescimento das economias dos países centrais. “Já há reversão das idéias de curva ascendente de crescimento nos Estados Unidos, conforme a revisão das projeções feitas pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico)”, afirmou o embaixador em apresentação na Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo sobre os “Impactos da Guerra do Iraque na Governança Internacional”.

Na contra-mão do liberalismo, isso pode levar ao aumento do protecionismo. “Trabalhamos com todos os cenários possíveis, mas, na prática, temos de esperar para ver”, disse.

A professora Lígia Maura Costa, da FGV, aposta que o unilateralismo de Washington na questão da guerra não se repetirá na OMC. Para ela, quanto mais livre comércio, melhor as possibilidades de os Estados Unidos venderem seus produtos e serviços para o mundo. “Essa oportunidade eles não vão deixar escapar.”

“Os Estados Unidos sempre perseguiram duramente seus interesses comerciais”, completou o professor George Avelino, também da FGV. A professora Lia Valls, da FGV do Rio de Janeiro, acredita que os norte-americanos continuarão negociando nas frentes multilaterais, regionais, bilaterais e unilaterais. “Eles vão continuar em busca de seus interesses comerciais”, disse.

O pesquisador Chistian Lohbauer, do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP (Gacint), lembrou que as dificuldades das negociações da OMC são muito anteriores ao conflito no Iraque e, independentemente do unilateralismo de Washington, os desafios serão grandes para negociar a Rodada Doha. “Com a guerra no Iraque, surgiu o temor de que os EUA descumpram os acordos. Mas o problema real na OMC são os impasses já existentes”, disse.

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