Troco, um velho problema ainda sem solução

Quem nunca ouviu de um caixa de supermercado ou de outro estabelecimento comercial a velha frase: ?Posso ficar lhe devendo R$ 0,01??. Ou ainda, ?posso lhe dar uma bala de troco?? Por gentileza ou para evitar algum tipo de estresse, a grande maioria dos consumidores aceita essa situação. Porém, além do prejuízo financeiro, essa atitude reflete na economia do País, pois ajuda a inflacionar os produtos.

O motorista Cyro Vellozo conhece bem essa situação. Por duas vezes, no mesmo estabelecimento, ele teve problemas com o troco. Na primeira vez a caixa disse que ficaria lhe devendo R$ 0,02. Porém, Vellozo não concordou com a afirmativa, e depois de muita reclamação, teve seu troco devolvido corretamente. Já em uma segunda oportunidade, acabou aceitando o troco com menor valor. ?Como estava com pressa e não queria me estressar novamente acabei concordando. Eu sei que agi errado, pois se fosse comprar um produto e não tivesse R$ 0,02 não me venderiam?, afirmou.

A assessora jurídica do Procon do Paraná, Marta Favreto Paim afirmou que não existe na legislação nenhuma indicação expressa sobre a questão do troco. Porém, o que deve ser levado em conta são os princípios da razoabilidade. ?Ninguém pode ser obrigado a receber um troco menor, ou ainda, levar bala ou chicletes, pois se o pagamento foi em dinheiro o troco tem que ser em dinheiro?, disse. Marta também orientou que o consumidor é prejudicado se receber um vale-compras, pois será obrigado a voltar para gastá-lo no mesmo estabelecimento. A assessora do Procon falou que o órgão pode ser comunicado se algum estabelecimento se negar a dar o troco, e se ficar identificado que isso é uma prática constante, o estabelecimento pode ser multado.

Inflação

O economista e coordenador do curso de Economia da UniBrasil, Edson Stein, alertou que além de causar um prejuízo para o consumidor, essa prática inflaciona os preços. ?Se um produto custa R$ 0,99, esse valor já cobre o preço da produção e do lucro do fornecedor. Porém se deixo de receber R$ 0,01 de troco, o produto sofre inflação de 10%?, explicou. O economista comentou que isso individualmente parece um valor pequeno, porém se multiplicarmos esses centavos o cenário muda.

Se um lojista de um shopping center, que abre suas lojas 360 dias no ano, deixar de dar R$ 0,01 de troco nesse período para 2 mil clientes, ele irá lucrar R$ 7,2 mil no ano. E se forem 20 mil clientes o valor salta para R$ 72 mil, que daria para comprar um carro de luxo ou um apartamento de 60 metros quadrados. E esse prejuízo, ressalta o economista, acaba tendo mais reflexo para as pessoas de baixo poder aquisitivo, que normalmente não possuem cartão de crédito ou cheques para fazer suas compras.

Outro exemplo comum ocorre nos postos de combustíveis que usam décimo de centavos nos seus preços, e anunciam valores como R$ 2,399 ou R$ 1,899. Segundo Stein, na real os valores corretos são R$ 2,40 e R$ 1,90, pois o máximo de divisão na moeda usado no Brasil é o centavo. ?Essa é uma forma enganosa de formar preço e criar uma ilusão monetária para atrair o consumidor?, finalizou.

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