CONSTRUÇÃO CIVIL

Trabalho dobrado aumenta probabilidade de acidentes

Recentes acidentes de trabalho fatais na construção civil demonstram a fragilidade com a qual os trabalhadores do setor se deparam todos os dias, algumas vezes por falta de equipamentos de proteção e outras porque os trabalhadores não utilizam os objetos necessários, fornecidos pela empresa.

Isso acontece porque algumas construtoras não se preocupam com a efetiva utilização dos equipamentos fornecidos, de acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de Curitiba (Sintracon), Domingos de Oliveira Davide. “Não adianta dar equipamentos sem treinamento, que é essencial. O funcionário que trabalha em altura, por exemplo, tem que ter consciência de que uma queda mata e que precisa usar cinto de segurança”, diz.

Segundo ele, a pressa e o foco na construção em si deixa a segurança de lado. “Evidente que boa parte das empresas não tem interesse nenhum em investir em treinamento para a segurança do trabalhador, considera uma perda de tempo, quer produção e mais produção”, critica o presidente do Sintracon.

Gravidade

Entre os vários tipos de acidente previstos em uma construção, os mais graves são queda de altura, desmoronamento e queda de objetos. “Isso sem contar acidentes mais freqüentes com pequenas lesões, por conta de objetos pontiagudos. São pequenos riscos, mas que também acarretam afastamento do trabalho”, lembra Davide.

Além desses problemas, o sindicato dos trabalhadores constata que há um alto índice de funcionários com problema de coluna. A categoria se organiza para provar que essas ocorrências também são acidente de trabalho. “Alegam que é corrosão pela idade, problema hereditário, mas é por excesso de trabalho”, enfatiza Davide.

Essa situação é acentuada por uma prática comum das construtoras, de fazerem as contratações por um piso salarial e darem a opção de um “prêmio” ou um bônus, que é pago por fora da folha de pagamento. “Se o trabalhador fizer a carga estabelecida para o ‘prêmio’, para a qual ele tem que trabalhar o dobro da sua capacidade, ele recebe um dinheiro a mais. Com o trabalho agressivo e pesado, em pouco tempo de trabalho o funcionário está com problema de coluna e dor nos ombros”, explica Davide.

Clandestinidade

A maior parte do problema se concentra em construções clandestinas, que não colocam placa com o nome de um engenheiro responsável. “Os maiores problemas de falta do uso de equipamentos de proteção estão em obras pequenas, irregulares, que têm de dois a três trabalhadores de boné, chinelo e sem proteção”, ressalta o coordenador de segurança do trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), Roberto Rocha.

Para inibir esse tipo de atividade, o Sinduscon mantém um Comitê de Incentivo à Formalidade, que reúne outras instituições como o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Paraná (Crea-PR). Uma equipe vistoria, diariamente, obras clandestinas e orienta os trabalhadores que, nessa situação, raramente têm carteira de trabalho assinada. Depois das vistorias, o índice de melhoria nas condições de trabalho é de 30%, de acordo com levantamento do Sinduscon.

Rocha ressalta que outro acidente facilmente de ser evitado – mas que também é comum em obras da construção civil – é o choque elétrico. “Há muitas emendas de fios sem isolamento correto, fio no chão junto com a água utilizada para a obra, o que também é um grande causador de acidentes com morte. Vemos coisas absurdas, mas infelizmente isso ainda existe no Brasil”, afirma.

Números oficiais

Levantamento oficial de registro dos acidentes de trabalho tem uma grande demora para ser divulgado, de acordo com o Sintracon. Os últimos dados que o sindicato possui são de 2008, repassados pela federação que representa os trabalhadores.

Naquele ano, foram mais de 231 mil acidentes de trabalho, somente na construção civil, em todo o Brasil, que deixaram 7.793 pessoas incapacitadas de trabalhar, além de 2.285 que acabaram morrendo em serviço. No Paraná, em 2008, houve 12.233 acidentes, que acarretaram em 519 pessoas incapacitadas e 134 trabalhadores mortos.

Alguns dos últimos acidentes graves na construção civil em Curitiba e Região Metropolitana:

MARÇO/2011 – Curitiba

O guincheiro Odir Lins Machado, 39 anos, morreu ao cair de um elevador de carga em uma obra na Vila Izabel, em Curitiba. Ele era registrado há dez meses na empresa e tinha mais de dez anos de experiência. Na ocasião, a empresa afirmou que o equipamento travou e ele subiu pelas escadas para tentar retirar o material que estava no elevador. O aparelho despencou e ele caiu de uma altura de aproximadamente dez metros. Machado morreu na hora.

FEVEREIRO/2011 – Foz do Iguaçu

O soldador Sidnei Luiz Palauro, de 36 anos, morreu enquanto trabalhava na estrutura metálica da cobertura da igreja Catedral Nossa Senhora de Guadalupe, em Foz do Iguaçu. Ele teria soltado o equipamento de segurança para trocar de posição, quando houve a queda. Morreu na hora.

JANEIRO/2011 – Colombo

Josiel Zack, de 26 anos, morreu durante o trabalho na construção da Escola Municipal Isolina Ceccon, no Jardim Ana Rosa, em Colombo. O trabalhador estava dentro de uma valeta, onde seria feito escoramento do barranco, quando as pranchas de madeira que seguravam a terra cederam, soterrando-o até o pescoço. Seus companheiros de trabalho tentaram socorrê-lo, mas ele não resistiu.

AGOSTO/2010 – Curitiba

O trabalhador da construção civil Sebastião Luiz de Oliveira Filho, de 22 anos, morreu soterrado em uma obra do bairro Cristo Rei. Ele e outro colega, Gilmar Rodrigues Medeiros, também de 22 anos, trabalhavam dentro de uma escavação quando uma das paredes cedeu. Gilmar ficou com as pernas presas e teve ferimentos.