Suinocultura tem recuperação passo a passo

A crise econômica que atingiu o mundo inteiro há um ano ainda apresenta efeitos prejudiciais na suinocultura paranaense. Mesmo com uma melhora em relação ao início de 2009, conseguindo até mesmo um crescimento na produção, a situação do suinocultor e do mercado ainda inspira cuidados.

O quilo do suíno, que chegou a ficar na faixa de R$ 1,66, hoje alcança R$ 1,83. Apesar da alta no preço, o valor ainda não é suficiente para dar lucro e muitos produtores operam no vermelho. Em 2008, antes dos efeitos da crise, o produtor conseguia, em média, R$ 2,41 pelo quilo da carne.

De acordo com o secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Valter Bianchini, o fator que mais influenciou esse colapso foi a queda brusca nas exportações, em particular para a Rússia, maior mercado consumidor da carne suína paranaense. “A Rússia sentiu bastante os efeitos da crise financeira e, como um efeito dominó, acabou refletindo aqui. As exportações caíram bastante e perdemos a terceira posição nesse ranking para Minas Gerais. Mesmo com um aumento nas exportações, os números ainda são tímidos”, diz.

Associado a isso, o surto da gripe A (H1N1), conhecida também como gripe suína, refletiu na queda do consumo. “Muita gente deixou de consumir a carne de suínos por medo de contrair essa doença. Por mais que campanhas e orientações afirmassem que o alimento não era vetor da moléstia, as pessoas ficaram desconfiadas. Hoje isso já não é mais um problema, entretanto, o consumo interno ainda não absorve toda a produção. Isso acaba gerando um excesso de oferta, que faz com que o preço até o produtor seja muito baixo”, diz.

Os mais afetados, segundo o secretário, são os produtores independentes. “Esses suinocultores não têm uma agroindústria por trás para auxiliar nas despesas. Eles precisam correr atrás de todos os mecanismos para a criação e venda de seu produto. Como o preço está baixo, a renda automaticamente cai”, avalia.

Incentivos

Embora confiante em uma melhora na situação, Bianchini acredita que as chances de o preço retornar ao patamar do ano passado não devem ocorrer no curto prazo. “As instabilidades do câmbio e a redução do poder de compra de muitos países inviabilizam uma melhora desse cenário. Mas estamos trabalhando para melhorar a situação”, garante. Dentre as ações promovidas pelo governo do Estado, a médica veterinária Ana Paula Brenner Busch, técnica de conjuntura do Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Seab, destaca a redução de impostos e inclusão da carne para licitação, entre outras. “O governo isentou o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para suínos vivos entre fronteiras, estendeu o subsídio para que os produtores utilizem energia elétrica no período da noite, promove campanhas para que haja um aumento no consumo da carne suína, negociação na compra para abastecer hospitais, polícia e autorização para participar de licitações para merenda escolar”, cita. O Estado também tenta que o governo federal, por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), compre a carne suína.

O Paraná é o terceiro estado em número de suínos, abates e produção no País, perdendo apenas para Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estima-se que existam dez mil suinocultores no Estado.

Foco no consumo interno

O vice-presidente da Associação Paranaense de Suinocultura (APS), João Batista Manfio, enfatiza que, com a ligeira melhora no setor, o momento para trabalhar o consumo interno é agora.

A APS, segundo ele, vem tentando descobrir os gargalos de produção para identificar onde pode atuar com mais eficácia. “Fizemos um estudo recen,te que identificou a necessidade de se criar cortes especiais para atrair mais a atenção da população, como, por exemplo, a picanha suína e o mignon suíno. Foi feito um projeto piloto em uma rede de supermercados com resultados excelentes. Estamos procurando parcerias para poder ampliar a abrangência desta ideia”, comenta. Outro ponto defendido por Manfio é que a carne de porco não é a vilã que muitos acreditam ser. “Acredito que trata-se apenas de um mito a história de que a carne suína é prejudicial à saúde. Com cortes mais magros, queremos dar mais opção a quem aprecia o sabor da carne suína, mas consome em menor escala que a bovina ou de ave por achá-la mais gordurosa.” Apesar da tímida melhora no mercado, o setor ainda deve manter os pés no chão e buscar diversificação das frentes comerciais. “Há necessidade de melhorar as unidades de produção, para garantir sempre a qualidade do produto, buscar novos nichos de mercado, como o Japão, Coreia do Sul, África do Sul e União Europeia, que são muito mais estáveis que os russos, e fortalecer cada vez mais o mercado interno, buscando sempre novas alternativas para atrair os consumidores”, conclui. (FL)

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