Suinocultores otimistas com o mercado externo

Enquanto não conseguem aumentar de forma significativa o consumo dentro de casa, os suinocultores brasileiros estão de olho no mercado externo. A expectativa do setor é que, até 2010, obtenha crescimento de 15% nos preços internacionais, melhorando significativamente as receitas. Por isso, a meta é atingir novos mercados, entre os quais Japão, México, Coréia e grande parte dos países da União Européia. Mas antes será preciso vencer algumas barreiras, como as sanitárias, para adequar as empresas às normas internacionais.

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Consumo interno ainda é pequeno se comparado a países compradores da carne  brasileira.

A avaliação é do médico veterinário Luciano Roppa, presidente do IV Fórum Internacional de Suinocultura, evento realizado na última semana em Curitiba. “A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) prevê que o consumo de carne suína deve crescer entre 1,8% a 2% ao ano. Mas, no Brasil, desde 2000 o consumo não cresce. No entanto, só neste ano o País já exportou 610 mil toneladas, contra 606 mil exportadas em 2007.” O Brasil é atualmente o quarto maior produtor e exportador mundial – atende 65 países -, ficando atrás dos Estados Unidos, União Européia e Canadá. O Paraná é o terceiro maior produtor, atrás de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

O consumo interno, há oito anos, não passa de 14 quilos por habitante/ano a exceção é a região sul, onde o consumo é de 21 quilos/ano. Enquanto isso, na China, esse índice chega a 35 quilos por habitante; na Espanha, a 66 quilos; no Paraguai, 26 quilos; e na Áustria o consumo é de 73 quilos por habitante/ano. Segundo Roppa, nos próximos dois anos o País deve registrar uma vantagem em relação aos outros países produtores, que, devido à crise internacional de alimentos, abateram suas matrizes. “A Espanha abateu entre 700 a 800 mil matrizes em 2008. Nos Estados Unidos foram abatidas entre 50 a 70 mil e, no Canadá, 150 mil, o que representa 20% do plantel”, comenta.

De olho na crise, País pode se transformar na “bola da vez”

O Brasil não deve passar imune pela crise internacional dos Estados Unidos porque muitas empresas instaladas no País são de capital aberto e têm ações na bolsa. Aliado a isso, fundos de investimento apostaram pesado em commodities, principalmente agrícolas, tendo sido afetados, além da crise financeira, pela crise de alimentos e o crescimento dos biocombustíveis. Em 2006 os Estados Unidos consumiram 56 milhões de toneladas de milho para a produção de combustíveis. Neste ano, devem chegar a 110 milhões de toneladas. O milho é um dos principais componentes para a alimentação animal – o que representa entre 75% a 80% dos custos de produção da carne suína – e teve o seu preço inflacionado diante desse cenário.

Porém, o Brasil pode se beneficiar dessa crise devido a uma série de fatores. Quem avalia é o gerente de mercado da Agroceres PIC, Alexandre Furtado da Rosa. “O Brasil dispõe de terras e tem capacidade de expansão, pois ocupa apenas 18% da área agricultável. Também concentra 20% da água fresca do mundo, possui mão-de-obra qualificada com um custo razoável, tem clima temperado e subtropical e não sofre com catástrofes naturais. Por isso, concordo com especialistas que dizem que o Brasil é a bola da vez”, pondera.

Pesquisa revela cadeia de consumo nacional

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Para aumentar as vendas, produtores buscam dar cara nova ao produto.

A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) deve divulgar nos próximos dias uma nova pesquisa relacionada à cadeia de consumo da carne suína no País. O mesmo levantamento já foi feito nos anos de 1994 e 2004. Apesar de ainda não estar totalmente formatado, os novos dados indicam que o setor produtivo ainda precisa avançar muito para atingir o consumidor. O professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de São Paulo e coordenador da pesquisa, Francisco Rojo, comenta que, apesar de a população brasileira gostar do sabor da carne suína, não consome por fatores como preconceito, preço, conveniência, formato e associação com a obesidade. Rojo aponta que, para atingir esse consumidor, o setor produtivo tem de se adaptar às mudanças dos hábitos alimentares da população e investir em mudanças, tais como novos cortes, porções menores e acondicionadas de forma mais atraente. Ações como essas já estão sendo difundidas pela ABCS, no entanto, Rojo pondera que ainda é preciso investir nos pontos de venda. “O produtor e as indústrias precisam investir no comércio para fechar o elo com o consumidor”, finaliza.